Cerca de um terço dos combatentes da antiga guerrilha das FARC voltaram a pegar em armas depois do acordo de paz, representando uma ameaça à segurança no país andino, segundo um relatório confidencial da secreta militar ao qual a Reuters teve acesso..O relatório interno diz que o número de combatentes que pertencem a grupos dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) é de cerca de 2300, um aumento acentuado em relação aos 300 na altura do controverso processo de paz..Com a assinatura do acordo, quase 13 mil membros das FARC, incluindo mais de seis mil combatentes, entregaram as suas armas para que fossem destruídas e puseram fim à sua participação na guerra de cinco décadas que matou mais e 260 mil pessoas e obrigou milhões a fugirem de casa..O relatório diz que há 31 grupos dissidentes das FARC a operar em regiões onde há plantações de coca -- o material a partir do qual se produz a cocaína -- e em áreas de mineração ilegal de ouro. A Colômbia é o maior produtor mundial de cocaína. O número estimado de combatentes é cerca de 30% superior ao último balanço oficial, que datava de dezembro.."Se olharmos para onde estes grupos armados organizados estão ou onde apareceram, está ligado ao crime: onde há uma forte presença de tráfico de droga ou de mineração ilegal, ou em áreas de fronteiras, especialmente próximo da Venezuela", disse à Reuters o general Luis Fernando Navarro, comandante das forças militares da Colômbia..O partido político das FARC que foi formado após os acordos de paz diz que, além da pressão para se juntarem aos grupos dissidentes envolvidos em atividades ilícitas, os ex-combatentes estão a pegar em armas por frustração em relação à falta de oportunidades económicas e raiva e por raiva em relação à estigmatização e à violência contra eles..O presidente colombiano, Iván Duque, tem tentado alterar os acordos de paz -- que resultaram num Nobel da Paz para o ex-presidente Juan Manuel Santos -- porque diz que eles são muito lenientes para com as FARC, que estiveram envolvidas em décadas de raptos, tráfico de droga, extorsão e homicídios..Uma tentativa de extraditar para os EUA o ex-comandante das FARC Jesús Santrich, acusado de tráfico de drogas, falhou, mas irou outros ex-líderes das FARC que consideram que Duque os quer prender a qualquer custo, apesar dos acordos de paz..Sergio Guzmán, diretor da Colombia Risk Analysis, uma consultora de risco sediada em Bogotá, disse que as tentativas do governo de "reinserir" ex-rebeldes na vida civil foram frustradas pela violência e discriminação e o falhanço de alguns dos projetos de emprego criados ao abrigo do acordo de paz.."Não ajuda o governo o facto de muitos projetos de reinserção estarem a demorar a ser lançados, os ex-guerrilheiros verem os seus antigos camaradas continuarem a ser estigmatizados pelo partido no poder e que um número recorde de mortes de ex-membros das FARC continuem sem ser investigadas e fiquem impunes", disse Guzmán..O governo diz que apoia 186 projetos individuais e coletivos que beneficiam 1404 ex-combatentes com investimento de mais de quatro milhões de dólares. Alguns dos projetos são em áreas onde as FARC tinham anteriormente presença armada..Líderes da Força Alternativa Revolucionária do Comum, o partido formado após a assinatura dos acordos de paz que manteve a sigla de FARC, alertou para o facto de a morte de 139 ex-combatentes também levou ao aumento do número de dissidentes. Culpam os paramilitares de extrema-direita por muitas dessas mortes..O documento militar também mostrou que o número de combatentes da guerrilha do Exército de LIbertação Nacional (ELN) aumentou cerca de 8% para 2400 desde o final do ano passado..O ELN participou em negociações de paz com o governo de Santos, mas Duque cancelou-os de forma indefinida depois de um ataque à bomba em Bogotá que foi reivindicado pelo grupo armado..Agora, segundo o relatório da inteligência militar, 45% dos combatentes da ELN -- incluindo os seus comandantes -- estão escondidos na vizinha Venezuela e a receber proteção do presidente Nicolás Maduro. O governo venezuelano reconheceu no passado que o ELN entra no país, mas nega apoiar o grupo rebelde.."O ELN considera os estados venezuelanos fronteiriços com a Colômbia como a sua retaguarda estratégica", disse Navarro, avisando que o crescimento do número de combatentes do ELN e dos grupos dissidentes das FARC representa "um risco e temos que o conter"..O governo de Maduro está envolvido numa grave crise política e económica depois de o líder da oposição, Juan Guaidó, ter assumido a presidência interina ao abrigo da constituição, em janeiro.