Aliás a confusão começa logo na demarcação temporal. Os primeiros a usar o termo millennials, os sociólogos Neil Howe e William Strauss, em 1991, (na obra Generations, The History of American Future, 1584 to 2069), e depois em 2000, quando se debruçam só sobre os milénicos (traduzamo-los assim), situam o início do território em 1982 e o final em 2004, decretando que toda a gente nascida ao longo desses 22 anos faz parte deste grupo. Mas há quem estabeleça outras balizas: 1977/1994 num artigo da Newsweek, 1976/1990 e 1978/1998 em dois artigos diferentes do New York Times, 1980/2000 num artigo da Time..Portanto, sim: não é fácil saber se uma dada pessoa deve ser considerada ou não milénica. Acresce que a maioria dos estudos - de marketing, sociológicos, etc - e sondagens sobre esta geração e o que a pode ou não definir dizem respeito aos EUA, o que quer dizer que não são completamente extrapoláveis para outras paragens. Por exemplo, se o ataque às Torres Gémeas, em 2001, é para os milénicos, em termos de redefinição do mundo, o que a queda do muro de Berlim foi para a anterior, para os portugueses a crise do euro e a entrada da troika em Portugal (2010/2014) tem muito mais impacto do que a crise financeira mundial de 2008/2009, mesmo se a segunda é em grande parte consequência da primeira..E talvez seja possível estabelecer um paralelismo, em termos de redefinição das relações interpessoais, afetivas e sobretudo amorosas/sexuais, entre o que foi o advento da epidemia da sida para a geração X e o surgir e progressivo império das redes sociais para os milénicos: da ameaça de morte nascida da intimidade e o que tal significa de mudança nas formas de relacionamento numa altura em que, nomeadamente em Portugal, se vivia ainda a descoberta da liberdade no pós-25 de Abril, para o renascimento das relações à distância e das trocas epistolares (agora por sms, Facebook, Whatsapp, Snapchat), quando já não se depende de frequentar os mesmos lugares físicos para descobrir pessoas, o espaço de encontro é o mundo todo e surgem aplicações especificamente dirigidas a encontros amorosos/sexuais (Tinder, Grindr, etc). Da distância metafísica do preservativo à proximidade virtual do ecrã tátil.