Miguel Guedes, um Blind Zero de olhos bem abertos

Contar a história e desenhar-lhe os contextos e os cenários, revelando as causas e as consequências - foi esse o desafio lançado ao homem que tantas vezes vemos falar por si.
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Miguel Guedes parte desta radiografia aos Blind Zero (BZ) para um boletim clínico que viaja por outras especialidades, chegando ao futebol e à política, passando pela evolução dos sonhos, pelo devir de um mercado (o discográfico, entenda-se) e pelos objetivos pessoais. Um check-up completo.

Estamos em fase de festa e de balanço, com vinte anos de banda. O que mais ganharam e mais perderam os BZ, face ao início?

Acho que conseguimos não nos transformar em "zeros" e "uns"... Apesar do nosso percurso ser metade analógico e metade digital, não passámos para o lado frio, cínico, apenas e só sobrevivente. Continuamos a querer viver, realmente... Por outro lado, ao fim de vinte anos, perde-se a capacidade de sonhar o infinito. Há sonhos, mas mais caseirinhos e palpáveis. Se perdemos a urgência juvenil de querer dizer as coisas todas muito depressa, aquele peito aberto heroico, visceral, aquele falar pelas entranhas, ainda sentimos que há muito para dizer...

O grupo hoje defende-se mais?

Não, o grupo mudou. Se a constituição é a mesma, as pessoas mudaram. Passaram a ouvir outras coisas, muito diferentes, deixaram de ouvir muitas outras... Fundamentalmente, viveram mais vinte anos, cada uma à sua maneira. Essas diferenças foram vitais para continuarmos, porque a alternativa seria a existência de chefes e isso nunca existiu nos BZ, sempre houve um espírito profundamente democrático, apesar da conhecida dinâmica do vocalista...

Os BZ vivem em democracia ou tu tens alguma predominância?

Temos um funcionamento profundamente democrático, o que nos leva, claro, a muito boas discussões de centralismo democrático (risos)... Mas, também aí, tudo está mais aliviado do que nos primeiros dez anos, em que, fruto da nossa maior juventude, tudo era mais aceso - não em termos estéticos, mas, por exemplo, no que dizia respeito aos relacionamentos de trabalho. A "velhice" e o digital permitem fazer tudo de forma diferente, juntando-nos depois de trabalharmos individualmente. Isso muda aquela necessidade, do início, de nos juntarmos todos na sala de ensaio a "partir pedra". Os focos viram-se mais para o vocalista, é sempre assim, mas eu nunca permitiria a mim próprio tomar conta de um processo artístico que é de cinco pessoas em conjunto.

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