Capitã de navio que forçou entrada em Itália vai hoje a tribunal

Carola Rackete enfrenta acusação de "resistência e violência contra navios de guerra", um crime que em Itália pode significar entre três a dez anos de prisão.
Publicado a
Atualizado a

A capitã alemã de um navio humanitário de resgate de migrantes, que atracou sem autorização em Lampedusa, Itália, após vários dias de espera no mar, vai ser ouvida esta segunda-feira em tribunal e saber se permanece em prisão domiciliária.

Segundo avançou hoje a rádio estatal italiana, Carola Rackete será levada de barco, acompanhada pela polícia, da ilha de Lampedusa para um porto na Sicília, onde será transferida para o tribunal da cidade de Agrigento.

Rackete desafiou o ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, e as autoridades portuárias ao entrar, na sexta-feira à noite, com o navio Sea-Watch 3 na doca de Lampedusa para que 40 migrantes libaneses pudessem desembarcar. A acusação alega que a capitã atacou deliberadamente um barco da polícia de fronteira que bloqueava o seu caminho, enquanto os advogados de Rackete dizem que ela não pretendia prejudicar ninguém.

Os meios de comunicação italianos disponibilizaram uma gravação da capitã do navio, na qual Rackete informou as autoridades portuárias italianas, na quarta-feira, que se dirigia para a ilha de Lampedusa por não poder garantir a segurança das pessoas a bordo, alegando que este era o porto mais seguro e próximo do ponto de resgate dos migrantes a norte das águas líbias. A resposta do porto foi de que o navio não estaria autorizado a entrar em águas italianas.

Salvini insitiu que o navio pertencente à organização humanitária Sea-Watch deveria ter continuado para Malta, para a Tunísia ou para portos do norte da Europa, em vez de atracar em Itália.

Acusada de tentar uma manobra perigosa, a capitã Carola Rackete, de 31 anos, garantiu que nunca pensou na sua ação como "um ato de violência, mas apenas de desobediência". Em entrevista publicada no domingo pelo jornal Corriere della Sera, Carola Rackete explicou que, naquele momento, atracar em Lampedusa pareceu-lhe ser a única solução face à "situação desesperada" que se vivia a bordo.

A jovem capitã transportava 40 imigrantes resgatados do mar há 17 dias e tinha declarado o estado de emergência a bordo há mais de um dia (36 horas), tendo sido ignorada pelas autoridades italianas.

"A situação era desesperante, o meu objetivo era apenas trazer pessoas exaustas e desesperadas para terra. Eu estava com medo", disse, explicando que temia que os imigrantes se atirassem ao mar, o que acabaria por significar a sua morte uma vez que não sabiam nadar.

"Certamente não queria tocar na alfândega, a minha intenção não era colocar ninguém em perigo, eu já me desculpei e peço desculpas novamente", continuou.

A sua manobra na noite de sexta para sábado para atracar em Lampedusa não causou feridos e o navio conseguiu desembarcar os migrantes que tinha resgatado da costa da Líbia. No entanto, é acusada de ajuda à imigração ilegal e resistência a um navio de guerra.

"Eu não tinha o direito de obedecer, pediram-me para trazê-los de volta (os migrantes) para a Líbia, mas do ponto de vista da lei, eles são pessoas que estão a fugir de um país em guerra. A lei proíbe que nós os possamos levar de volta para lá", acrescentou.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt