O mieloma múltiplo é um tumor com origem num tipo de célula da medula óssea que produz anticorpos anormais, que fragiliza os ossos, que interfere com as defesas do organismo ou com a função renal. Apesar de não ser hereditário nem contagioso, a sua causa permanece desconhecida e é, ainda hoje e apesar de toda a inovação terapêutica, uma doença incurável. "Em Portugal, estudos publicados em 2021 apontam para cerca de dois mil doentes com mieloma múltiplo em tratamento", afirma Catarina Geraldes, Diretora do Serviço de Hematologia Clínica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra..Paula Rocha faz parte deste número. É atualmente membro da Associação Portuguesa Contra a Leucemia, mas em 2021 sentiu o mesmo choque de muitos doentes ao receber o diagnóstico. "Foi um murro no estômago", uma notícia totalmente inesperada face aos sinais que o corpo lhe deu na altura, explica. "Tinha só dores nas costas, não me sentia cansada. Não tinha mais nada", afirma. Mas é justamente na dor óssea onde está muitas vezes o sinal de alerta, já que é um dos principais sintomas que levam o doente a procurar cuidados de saúde..A dor pode ter qualquer localização, mas na maioria dos casos manifesta-se na coluna vertebral, nomeadamente nas regiões dorsal e lombar. No caso de Paula Rocha, "tinha muitas dores" que "começaram na escápula, alastraram para a lombar" e "mais tarde surgiram no corpo todo"..Outros sintomas que também podem surgir no contexto do mieloma múltiplo são a falta de forças generalizada e progressiva e o aparecimento de infeções frequentes, aponta Catarina Geraldes. Mas há esperança para além da doença. Depois do diagnóstico de Paula Rocha, seguiu-se o tratamento que a conduziu ao destino onde todos os doentes ambicionam chegar: a remissão. "Já fiz um segundo autotransplante, que é um autotransplante de consolidação.", afirma..Ainda que o final da história de Paula Rocha tenha sido um exemplo de sucesso devido à sua excelente resposta ao tratamento, tal nem sempre acontece com todas as pessoas que sofrem de mieloma múltiplo. Neste momento, o grande desafio é encontrar a melhor sequenciação terapêutica para cada doente. Para os acompanhar neste processo difícil, o apoio familiar e psicológico é fundamental..Igualmente fulcral é o trabalho de estruturas como a Associação Portuguesa contra a Leucemia, da qual Paulo Amado também é membro. A sua jornada começou em 2014, quando descobriu a doença em exames médicos de rotina. Desde essa altura até agora, recentemente saído do hospital, mantém a esperança na evolução terapêutica.."Tem havido bastantes novidades em termos de medicação. Surge sempre alguma medicação nova, até porque um dos problemas do mieloma múltiplo é que facilmente o medicamento deixa de fazer efeito, sendo necessário trocá-lo e experimentar outro", explica Paulo Amado..Nos últimos anos, a qualidade de vida de doentes como Paula Rocha e Paulo Amado tem melhorado de forma significativa. A razão está não só nas terapêuticas dirigidas à doença, como nos analgésicos, num controlo mais eficaz da dor e num programa mais avançado de reabilitação adaptado a cada doente.."Com todas estas inovações, o mieloma múltiplo evoluiu para uma doença crónica e os doentes vivem cada vez mais tempo. A gestão da qualidade de vida dos pacientes torna-se também um ponto fundamental na forma como selecionamos e gerimos as terapêuticas", conclui Catarina Geraldes, também membro do Grupo Português de Mieloma Múltiplo..A autora do artigo não recebe qualquer honorário para colaborar nesta iniciativa..Esta iniciativa é apoiada pela GSK, sendo os artigos integrados no projeto Ciência e Inovação da responsabilidade dos/as seus/suas autores/as