Microcrédito é a chave que abre negócio a excluídos
O acesso ao microcrédito é o golpe de asa que devolve autonomia financeira e integração social a uma centena de portugueses excluídos por ano. Segundo dados da Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC) - que promoveu a Semana do Microcrédito em Portugal entre os dias 20 a 25 -, perto de 500 desempregados com baixa qualificação profissional, reformados com baixos rendimentos e empregados com rendimentos próximos do salário mínimo criaram o seu posto de trabalho ou uma microempresa com a ajuda de um empréstimo bancário cujo processo foi mediado pela ANDC.
Em Portugal, o microcrédito é um empréstimo bancário que pode ir até cinco mil euros, reembolsável em 36 prestações mensais constantes, com uma taxa de juro de 5%. De acordo com Maria Adelaide Ruano, membro da direcção da ANDC, "os seus beneficiários são pessoas a quem o banco não empresta dinheiro, por não terem rendimentos ou por terem tido já alguns incidentes bancários".
O caminho, que a associação entende ser o da saída da pobreza para uma plena integração social, começa com a apresentação do projecto de actividade económica, que pode ser feito pelo candidato ou por uma instituição local que o conheça. Um agente de microcrédito entrevista-o, certifica-se de que não tem acesso ao crédito comercial e trabalha com ele para melhorar o seu plano de negócios. A proposta é submetida à apreciação de uma Comissão de Crédito da ANDC e, se esta concordar, segue para o Banco.
"Há pessoas que têm ideias de negócio muito tímidas, é preciso fazer-lhes ver que estas têm pernas para andar", diz Maria Adelaide Ruano. Até porque a experiência da associação demonstra que, "mesmo quando enfrentam sérias dificuldades, as pessoas que mudaram de vida por terem recebido um microcrédito fazem tudo para corresponder à confiança despositada nelas e honram os seus compromissos". Depositada a confiança nos candidatos, o risco é assumido, porque "a ANDC quer integrar pessoas e fazer com que se sintam úteis".
uma ideia de sucesso. José Costa tinha 52 anos e "um problema social, a postura perante o álcool", quando ouviu falar pela primeira vez do microcrédito. Levantou a cabeça às primeiras frases, que acreditou valerem a pena por serem ditas dentro da Comunidade Vida e Paz, onde passava os dias. Estava desempregado, depois de muitos anos a gerir oficinas.
"A dada altura era dinheiro a mais, caí para o lado mais fácil, fui sete vezes a tribunal por conduzir com álcool no sangue", diz. E acrescenta "Quando já não tinha trabalho, avariava televisões de propósito para me chamarem para as ir arranjar."
A experiência conseguida na Força Aérea - tirou dois cursos de electrónica - permitiu-lhe "pensar o projecto" que apresentou à ANDC. Passado ano e meio faz reparações e tudo lhe corre bem.
"Ambiciono ter mais e empregar colegas da Comunidade Vida e Paz, para ganharmos para nós e sermos dignos", explica. Para isso, garante que tem cumprido a sua parte, o que significa que não falhou qualquer prestação do empréstimo. "Nunca tive dúvidas do meu valor, só duvidava que alguém apostasse em mim", diz. Aposta ganha, José Costa tem agora uma entrevista marcada para começar a trabalhar numa loja. "Mas quero mais do que isto", assegura.
dar a volta à vida. Quando perdeu o marido, Luísa Rodrigues pensou que tinha perdido tudo. Com 34 anos, dois filhos e um trabalho como auxiliar de educação que não suportava as suas exigências. "Pensei que tinha que dar uma volta à minha vida e contactei a associação de que me tinham falado", conta. Por ter sido "criada com uma modista, gostava de costura" e decidiu abrir um atelier.
Em 2001 apresentou uma proposta que implicava um microcrédito de 2500 euros. A ideia vingou e começou a trabalhar sozinha. Na altura, estava num centro comercial. Hoje, tem uma loja de rua na Avenida de Roma, em Lisboa, e a convicção de que o negócio tem condições para crescer. As prestações do empréstimo foram pagas de acordo com o contrato estabelecido "E já precisei de fazer um reforço, para comprar mais máquinas de costura."