Michelle Obama conta história de vida à América
Presidenciais EUA. Acusado de elitismo, Obama escolheu a mulher para o apresentar na Convenção Democrata que ontem começou. Advogada de sucesso nascida numa família de classe média baixa, Michelle representa o sonho americano e pode ser essencial para o marido chegar à Casa Branca
Barack Obama chama-lhe "o Rochedo" pela solidez que Michelle trouxe à sua vida. Talvez por isso o candidato democrata à Casa Branca tenha escolhido a mulher para fazer o primeiro grande discurso da Convenção que o vai consagrar como candidato às presidenciais de 4 de Novembro. Depois de um dia marcado pelas mensagens de união entre os campos de Obama e da sua rival nas primárias Hillary Clinton, Michelle devia dizer aos americanos "quem é, quais os nossos valores e como criamos as nossas filhas", explicou o próprio Obama.
Num discurso marcado para o horário nobre nos EUA (madrugada em Portugal devido à diferença horária), Michelle tem a oportunidade de esclarecer os rumores que circulam sobre ela e provar aos americanos que é uma pessoa acessível. Segundo os media americanos, a intervenção da advogada devia centrar-se na sua história de vida e na do marido. Casada com Obama desde 1992, Michelle terá como missão contrariar as acusações da campanha do republicano John McCain, que tem descrito o adversário como elitista e mais próximo de estrelas como Britney Spears ou Paris Hilton que do americano comum. Já em 2004, o democrata John Kerry enfrentara acusações semelhantes, que acabaram por custar-lhe a Casa Branca.
De calças pretas e casaco verde, Michelle esteve no Centro Pepsi à tarde para um ensaio em que se fez acompanhar pelas filhas, Malia, de 10 anos, e Sasha, de 7, bem como pelo irmão, Craig Robinson. Este, tal como Maya, a meia-irmã de Obama, devia discursar mais tarde e apresentar Michelle. Principal oradora da noite, a mulher do candidato democrata mostrou-se "ansiosa para que chegue a hora de falar".
O porta-voz de Obama garantiu aos mais de 15 mil jornalistas que estão a cobrir a Convenção: "Ninguém conhece melhor Obama do que a mulher." E é por isso que Michelle foi escolhida para contar a história do filho de um queniano e de uma branca do Kansas, que se separaram quando ele tinha apenas dois anos. Criado entre a Indonésia e o Havai, onde viviam os avós, Obama subiu a pulso e conseguiu formar-se, tendo estagiado no escritório de advogados onde trabalhava Michelle.
Filha de um funcionário público e de uma dona de casa, a mulher de Obama pretende apresentar-se como um exemplo do sonho americano. Criada num apartamento com duas assoalhadas, que partilhava com os pais e o irmão, só em Princeton e, depois, Harvard, enfrentou os preconceitos raciais. Mas rapidamente os ultrapassou, tornando-se numa advogada de sucesso.
Acusada pelos republicanos de antipatriotismo após ter dito na campanha sentir-se "pela primeira vez" orgulhosa do seu país, Michelle tem agora a oportunidade de conquistar os americanos que podem fazer dela a primeira primeira dama negra da História dos EUA.
No primeiro dia de Convenção, os democratas procuraram mostrar-se unidos. Hillary, que amanhã vai a votos com Obama, num gesto simbólico, uma vez que não tem qualquer hipótese de vencer, garantiu que as suas equipas estão a "trabalhar juntas" e negou os rumores de discórdia entre os antigos rivais. Para o provar, a ex-primeira dama, que hoje deve discursar no Centro Pepsi, apelou aos seus apoiantes hispânicos para darem o voto a Obama.|