Michael Gove põe de lado a hipótese de lançar brexit ainda este ano

Candidato a líder dos <em>tories </em>e defensor da saída da UE diz que é preciso conversações prévias antes de acionar o artigo 50.º
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Foi a "convicção" que levou Michael Gove a candidatar-se à liderança do Partido Conservador e não a "ambição", disse ontem o ministro da Justiça depois de ter sido acusado de trair o aliado, Boris Johnson, que nunca escondeu o desejo de ser ele a suceder ao primeiro-ministro David Cameron. O ex-mayor de Londres desistiu de se candidatar e agora cabe a Gove ser a voz dos que defenderam o brexit. Na apresentação da candidatura garantiu, contudo, que o artigo 50.º do Tratado de Lisboa, que dará início à contagem decrescente para a saída do país da União Europeia (UE), não será acionado neste ano.

"Uma das razões para ter dito "não durante este ano" é por pensar que precisamos de ter algumas conversações preliminares, não diria negociações, por isso não quero pôr um prazo", afirmou Gove na conferência de imprensa. "Nós controlamos o momento em que acionamos o artigo 50.º e vamos fazê-lo quando estivermos prontos", acrescentou o candidato à liderança dos tories.

Esta indicação segue a feita na véspera pela favorita na corrida à sucessão de Cameron, a ministra do Interior, Theresa May. Tal como a principal adversária - no total há cinco candidatos (ver caixa) -, Gove disse que não haverá eleições gerais antes de 2020, quando acabava o mandato do primeiro-ministro.

Mas, em relação à questão da imigração, que acabou por se tornar o principal tema da campanha, Gove foi mais longe do que May. Enquanto a ministra prometeu maior controlo, sem dizer como, Gove prometeu reduzir as entradas de imigrantes acabando com a liberdade de movimentos que vigora na UE. Tal como defendeu na campanha para o referendo, o ministro quer a introdução de um sistema por pontos, como existe na Austrália, só permitindo a entrada de pessoas com base nas suas capacidades.

Outra promessa dos defensores do brexit, que estava escrita no autocarro de campanha, era que os 350 milhões de libras que o Reino Unido paga por semana à UE (valor que não tinha em conta o que voltava em subsídios e bolsas) seriam usados para reforçar o Sistema Nacional de Saúde. Gove prometeu agora cem milhões por semana, insistindo que não estava a quebrar a promessa de campanha.

Gove insistiu ainda que o país deve ser governado por um político que tenha defendido o brexit (Theresa May apoiou o "ficar") e respondeu às críticas de traição. "Nunca pensei estar nesta posição. Não queria, de facto, fiz tudo para não ser um candidato à liderança deste partido", afirmou. "Estava tão relutante porque conheço as minhas limitações. O que quer que seja o carisma, não o tenho. O que quer que seja o glamour, acho que ninguém o pode associar a mim", afirmou

Na conferência de imprensa, Gove disse que pensava que Johnson era o homem certo para levar o país para a frente. "Queria que esse plano funcionasse. Trabalhei noite e dia para isso. Mas cheguei nesta semana à conclusão de que, apesar dos talentos formidáveis do Boris, ele não era a pessoa certa para a tarefa", disse. Ontem, questionado à saída de casa sobre se se tinha sentido "traído" pelo seu amigo de longa data, o ex-mayor de Londres disse: "Não posso, infelizmente, fazer aquilo que queria fazer, por isso caberá agora a outra pessoa e desejo-lhe todo o sucesso possível", afirmou Johnson.

Reações ao brexit

O ex-primeiro-ministro britânico, Tony Blair, num artigo publicado ontem no The Telegraph, defendeu ontem que as negociações com a União Europeia não deviam ser lideradas por um defensor do brexit. "Vamos ter uma negociação de extraordinária complexidade onde o diabo está em cada pormenor. Isto requer um estadista sério", escreveu, num artigo de opinião que é visto como uma tentativa sua de se envolver nas negociações.

Em França, o presidente François Hollande disse ontem que o brexit não pode ser cancelado ou adiado, depois de se encontrar com o primeiro-ministro britânico, David Cameron. "A decisão foi tomada, não pode ser adiada e não pode ser cancelada, agora vão ter de enfrentar as consequências", disse Hollande aos jornalista à margem das cerimónias do centenário da Batalha de Somme. Hollande disse que um brexit rápido "evitaria todas as incertezas e instabilidade, especialmente nos domínios económico e financeiro. Quanto mais rápido acontecer, melhor para eles".

Na próxima segunda-feira, a secretária de Estado dos Assuntos Europeus portuguesa, Margarida Marques, vai a Londres para "debater o futuro da Europa na sequência do recente referendo"e "reafirmar as relações privilegiadas entre Portugal" e o Reino Unido, tendo previsto um encontro com o homólogo britânico, David Lidington.

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