México em sobressalto após sismo e mais de três centenas de réplicas

Abalo de magnitude 8,1 na escala de Richter foi um dos mais fortes a atingir o país. Houve pânico na capital, onde muitos ainda recordam tragédia de 1985, quando dez mil pessoas morreram. Balanço provisório aponta para 60 mortos
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Dez horas depois do sismo de magnitude 8,1 na escala de Richter, o mais forte sentido no México em quase um século, o serviço sismológico local já tinha registado 337 réplicas. Destas, 30 tiveram uma magnitude igual ou superior a 4,3 - a mesma do abalo sentido em Lisboa a 17 de agosto - tendo a mais forte sido de 6,1. O epicentro foi no Pacífico, a 87 km de Pijijiapan (no estado de Chiapas), a quase 800 km da Cidade do México, mas na capital soaram os alarmes e houve pânico. A população ainda não esqueceu o sismo de magnitude 8,1 que, a 19 de setembro de 1985, fez mais de dez mil mortos. Ontem, o balanço provisório apontava para a morte de 60 pessoas e a existência de 200 feridos.

O sismo ocorreu às 23.49 (05.49 em Lisboa) e foi também sentido na vizinha Guatemala. Inicialmente, foi apontado como tendo sido de magnitude 8,4, mas o valor seria revisto para 8,2 pelos especialistas mexicanos. Já os norte-americanos e os portugueses falam em 8,1 - os sismógrafos nacionais detetaram pelo menos três réplicas. Como o epicentro foi no Pacífico, a 69 km de profundidade, foi dado o alerta de tsunami, não só para o México como para a América Central. A televisão mexicana mostrou imagens do mar a recuar cerca de 50 metros e algumas zonas costeiras foram evacuadas, mas segundo o Centro de Alerta de Tsunamis do Pacífico o sismo desencadeou ondas inferiores a um metro.

João Vicente da Silva tem 47 anos e vive há 17 na Cidade do México, já estando habituado aos sismos. "Isto aqui treme todos os dias", disse ao DN, explicando, contudo, que desta vez foi muito diferente. "Eu tenho o sono pesado e não ouvi os alarmes sísmicos que começaram a tocar 30 segundos antes. Acordei com os gritos da minha mulher, a mandar-me sair. Em pijama, descalço, peguei na minha cadela e no meu filho e fomos para a rua, onde já estava toda a gente", contou. João, natural de Rio Maior, diz que não é capaz de dizer durante quanto tempo a terra tremeu: "Parecia uma eternidade."

O gerente de uma empresa de fabrico de pneus ainda não vivia no México em 1985, quando um sismo de magnitude semelhante deixou mais de dez mil mortos e destruiu grande parte da capital. Segundo os especialistas mexicanos, apesar da mesma magnitude, na Cidade do México este foi três vezes menos forte do que o de há 32 anos. "A minha mulher e a minha sogra estão sempre a contar-me dessa vez. Dizem que então foi como se a terra abanasse na horizontal e na vertical e durou muito tempo. Além disso, as construções não eram tão boas. Desde então que são melhores."

Além das melhorias ao nível da construção, em 1993 foi instalado um sistema de 8200 megafones pela cidade que lança um alerta quando há um grande sismo, permitindo aos habitantes da capital mexicana cerca de um minuto para saírem de casa - o que muitos fizeram ontem -, tudo graças a um sistema de sensores instalados ao longo da costa do Pacífico, junto às falhas sísmicas. As ondas sísmicas podem levar um minuto a chegar à capital, permitindo assim o alerta. Assim que o abalo é detetado, o sistema lança uma onda rádio que aciona uma série de alarmes, permitindo às pessoas deixarem os edifícios. A Cidade do México, onde vivem 8,9 milhões de pessoas (21 milhões se for considerada toda a zona metropolitana), está construída sobre um antigo lago.

Sabendo do risco das réplicas, João e a família prepararam bolsas com documentos e alguma roupa, caso fosse necessário voltar a sair de casa. "A minha mulher nem conseguiu dormir", referiu. As autoridades mexicanas lembram que o México é "um país sísmico", pelo que os habitantes devem estar "sempre preparados". Até porque o próximo abalo "pode até não ser uma réplica, mas um novo sismo". Poucas horas após o sismo, o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, tinha alertado para o perigo das réplicas, lembrando que depois do sismo de 1985 houve uma de magnitude 7,5.

Os estados de Oaxaca, Chiapas e Tabasco, mais próximos do epicentro, foram os mais afetados. No primeiro, as autoridades contabilizavam 25 mortos a meio da manhã, 17 dos quais em Juchitán - onde o Palácio Municipal ficou reduzido a escombros e o hospital teve de ser evacuado. "A situação é crítica. Por isso pedimos a intervenção direta do governo e do presidente", disse a autarca Gloria Sánchez, à rádio local. Em Chiapas já havia registo de sete mortos e danos nas localidades de Tonalá, San Cristóbal de las Casas e Comitán de Domínguez. Em Tabasco, duas crianças morreram.

O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, disse à Lusa que em princípio não haverá portugueses na zona afetada. Na Riviera Maya, destino de férias de muitos portugueses, o abalo não foi sentido.

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