Mexefest começa com salas cheias

Os ritmos africanos de Celestemariposa deram arranque a mais uma edição do festival, que neste primeiro dia viajou pelas variadas latitudes musicais
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Pouco passava das seis e meia quando o afro-baile de Celestemariposa invadiu o terraço do renovado Cine-Teatro Capitólio, no Parque Mayer, em Lisboa, o cenário escolhido para dar arranque ao Mexefest. Talvez devido ao horário vespertino, o pouco pouco público presente estava mais deslumbrado com a vista deste novo espaço, que tem tudo para se tornar num dos mais concorridos pontos da capital num futuro próximo. "Deixa chegar o verão", comentava alguém junto ao balcão, mas a verdade é que não foi preciso esperar tanto para a temperatura subir. Quase sem se dar por isso, o público foi aumentando e aumentando e aumentando e o frio deste fim de tarde outonal lisboeta depressa se transformou num pedaço quente da mãe África, ao som do funaná e do semba debitado das colunas, fazendo bambolear os corpos da pequena multidão que ocupou o terraço até ao final da atuação.

Depois, foi tempo de descer as escadas, pois um pouco mais abaixo, nos "bastidores" do Capitólio, estavas prestes a ter início o espetáculo de Valas, uma das maiores promessas da nova geração do hip-hop nacional, como o comprova o recente contrato com uma editora multinacional. Como "bastidores" entenda-se os fundos do teatro, que serve para entrada dos cenários e outros materiais, que de forma imaginativa foi transformada num palco. Mais uma vez e apesar do "adiantando" da hora, o rapper alentejano foi recebido por uma "bela moldura humana", que, aqui e ali, até já sabia de cor algumas das rimas. Como aquela em que canta "o meu lugar eu sei qual é", dedicado à sua cidade natal de Évora - muito embora, ontem, o lugar certo para Valas estar fosse mesmo aqui, nesta espécie de garagem lisboeta.

Mais ou menos à mesma hora, mas um pouco mais abaixo, no número 100 da Rua das Portas de Santo Antão, Lula Pena dava início ao seu espetáculo na Sociedade de Geografia de Lisboa, um local mais que perfeito para uma música sem fronteiras. Ou melhor, sem preconceitos, pela forma como em pouco mais de uma hora vagueia pelas mais variadas linguagens da lusofonia, sejam elas musicais ou fonéticas. E surpresa das surpresas (ou talvez não), mais uma vez e ao contrário do que acontecera em anos anteriores, nos concertos mais madrugadores, a sala estava cheia. O mesmo cenário, aliás, vivia-se do outro lado da Avenida da Liberdade, no Palácio Foz, onde era necessário esperar à porta, que alguém saísse, para entrar no concerto de Filipe Sambaso e os Acompanhantes de Luxo. Índie pop despojada e intimista, a contrastar com o fausto da sala dos espelhos, numa das imagens que melhor resume o espírito de descoberta e surpresa do Mexefest.

E por falar nisso, foi uma verdadeira aparição inesperada, a de Jorge Palma, no Largo de São Domingos, junto ao Teatro Nacional Dona Maria II, num dos "concertos surpresa" do festival - houve outro numa das varandas do Coliseu, mas a natureza deambulatória do Mexefest não nos permitiu perceber de quem se tratava. É que, afinal, ainda havia muito para ver e a noite estava só no início. "Ainda temos que subir avenida toda", desabafa-se numa esplanada no Rossia, enquanto se estuda o programa.

É que ainda faltam concertos de gente tão diferente como Talib Kweli, Céu, Howe Gelb ou Jagwar Ma, entre tantos outros, e "a escolha começa a ser difícil".

E também não vai ser fácil hoje, sábado, porventura o dia com mais "cabeças-de-cartaz" por metro quadrado, no qual, por entre fado, hip-hop, rock ou folk, nem sequer falta um prémio Grammy, ganho aos 79 anos e há apenas um par de semanas, por Elza Soares - mesmo a tempo do Mexefest, é caso para dizer...

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