Metade do investimento no setor da construção
Metade do novo investimento realizado na economia portuguesa em 2017 foi na construção. Segundo o fecho das contas anuais do INE, o investimento total foi o agregado da procura interna que mais subiu (+8,4%), uma ajuda decisiva para que o produto interno bruto (PIB) tenha crescido 2,7%, a melhor marca em 17 anos.
O investimento que realmente foi realizado (o fixo, descontando as variações de preços dos stocks existentes) até melhorou mais (+9%). A explicar esta dinâmica aparece, de novo, a construção, setor que atravessou uma longa crise de 15 anos - quase desde o início do milénio que o valor acrescentado vinha a decair fortemente, excetuando um ano ou outro de pausa (conseguiu crescer 1,8% em 2007 e estagnou em 2015). O novo ciclo de fundos europeus, a explosão do turismo e a forte subida dos preços da habitação ajudam a explicar o interesse redobrado dos investidores na construção.
A equipa de economistas do FMI que segue Portugal não tem dúvidas. "O crescimento foi suportado por uma recuperação no investimento privado" e aqui destaca o papel da "construção, puxada pelos projetos ligados ao turismo e pela subida dos preços das casas". O FMI acredita que o impulso de 2017 se repita neste ano com uma nova subida (+8,1%).
Os dados do INE mostram que a economia portuguesa investiu mais 2,9 mil milhões de euros em 2017 (formação bruta de capital fixo, medida a preços correntes). O setor da construção é o que mais sobressai, já que adiciona à economia mais 1,5 mil milhões em novos investimentos (54% do total). Os restantes tipos de investimentos também cresceram, mas os contributos foram bem inferiores.
Os equipamentos de transporte avançaram 14%, mas só injetaram no país mais 360 milhões de euros; o investimento em maquinaria (que não veículos) disparou 13%, mas traduziu-se apenas em mais 883 milhões. A aposta em propriedade intelectual subiu 0,3%, o que a preços correntes significou um acréscimo de 76 milhões de euros no investimento.
Resultado: a economia cresceu 2,7% em termos reais no ano passado, marca que superou a maioria das previsões, incluindo a do governo, que apontava para 2,6%.
O INE explicou que as importações e as exportações cresceram ao mesmo ritmo de 7,9% no ano passado, o que, dado o peso superior das importações, acabou por enfraquecer o excedente comercial (bens e serviços) de 1,1% para 1% do PIB. "O forte crescimento das exportações de turismo" foi decisivo para segurar a posição externa do país.
A forte aceleração das compras ao estrangeiro estará relacionada com a compra muito mais intensa de bens de investimento, como máquinas e veículos, e com o consumo final de bens duradouros, como ainda foi o caso dos automóveis em 2017. No consumo privado (famílias) não houve sobressaltos: avançou 2,2%, em linha com o que acontece desde 2014.