Meta de redução de sal e açúcar do Governo ficou a metade do proposto pelas organizações

As negociações iniciais falavam numa redução na ordem dos 20%, mas o acordo final situou-se nos 10%. Fontes do Ministério acreditam que a secretária de Estado se limitou a ceder às propostas da indústria, mas Raquel Duarte explica que o protocolo é um acordo e contempla a dificuldade de adaptação do setor
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A diretora do Programa Nacional para a Alimentação Saudável, da Direção-Geral de Saúde, informou que o protocolo assinado esta quinta-feira com a indústria vai permitir que mais de dois mil produtos alimentares passem a ter menos sal e açúcar. Ao fim de mais de ano de negociações e daquilo que Maria João Gregório diz ter sido um "processo complicado", o objetivo é reduzir até 2022 as quantidades de açúcar, sal e gorduras trans em cereais de pequeno-almoço, iogurtes, pão, sopas prontas a comer ou batatas fritas.

Contudo, de acordo com fontes do Ministério da Saúde, os objetivos mínimos aceites pela secretária de estado Raquel Duarte durante as negociações com a indústria alimentar ficaram na maioria dos casos a metade daqueles definidos abril de 2018, entre diversas organizações chamadas a debater o tema pela Direção-Geral da Saúde. Desta discussão preliminar fizeram parte a DECO, a Ordem dos Nutricionistas, a Associação Portuguesa de Nutrição, a Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA) e a Associação Portuguesa de Espaços Verdes (APEV).

As metas discutidas e acordadas inicialmente relativas à redução de açúcar (em produtos como cereais, bolachas, biscoitos, leite achocolatado, iogurtes e refrigerantes) eram de 20% e acabaram por ser de 10%. Já relativamente ao sal, no que toca às bolachas, biscoitos e cereais, terá descido de 16% para 10%. Quanto às batatas fritas e snacks salgados, de 16% para 13%. Sobre as carnes processadas, por outro lado, apesar de inicialmente apontada uma redução de 16%, a atual secretária e a indústria não terão chegado a acordo. Segundo a secretária de Estado da Saúde, tal deve-se a problemáticas associadas à conservação da carne.

Fontes do Ministério da Saúde acreditam que a troca do executivo que ocorreu durante o processo negocial poderá ter estado na origem da descida de algumas das metas inicialmente definidas.

Em entrevista ao DN, a secretária de Estado da saúde garantiu, contudo, que a diferenciação de valores se deve ao ajustamento do acordo à capacidade de adaptação da indústria alimentar."Tudo isto envolve negociação e para a reformulação dos alimentos é preciso que as próprias indústrias encontrem mecanismos alternativos, porque querem que os seus produtos mantenham o sabor", justifica.

Para alguns produtos, aliás, a redução está abaixo dos 10%, como é o caso dos néctares (7%), pois "é extremamente difícil reduzir mais, uma vez que a próprio sumo da fruta tem açúcar", acrescenta. O que não quer dizer que mais tarde, após o findar deste protocolo, sejam celebrados outros no sentido de aumentar esta percentagem. "É um primeiro passo para outros", rematou.

A própria bastonária da Ordem dos Nutricionistas sublinha a preocupação com a indústria neste acordo. "Podem não conseguir adaptar-se nestes três anos seguintes e não queremos que a nossa indústria vá à falência", disse em entrevista ao DN. Alexandra Bento elogia o protocolo assinado esta quinta-feira, que vê como "um grande momento" ao qual "não devemos tirar o mérito", mas alerta que a conclusão poderia ter sido mais ambiciosa.

"Temos de caminhar rapidamente para mais longe, até porque quanto a alguns produtos ficámos aquém", disse, como é o caso da charcutaria e dos queijos, não contemplados neste acordo. Além disso, em grande parte daqueles que integram o protocolo, a diferença dos 10% não será tão significativa. "Se pensarmos num pacote de bolachas de 20 gramas de açúcar, vamos ver este número ser reduzido para 18, o que é bom, mas ainda é insuficiente", reitera. Acrescenta que é fundamental garantir a supervisão deste processo daqui em diante, para garantir que as metas são cumpridas.

Se as metas iniciais da DGS forem alcançadas - embora também aqui se admitam algumas limitações -, os portugueses vão consumir menos 1825 toneladas de sal em comparação com o que consumiam em 2016. No açúcar, os valores previstos são ainda mais impressionantes: menos 13 mil toneladas.

A secretária de Estado Raquel Duarte considera que se trata de um protocolo "inédito", uma vez que "envolve vários grupos alimentares".

Segundo dados da DGS, 30% das crianças portuguesas sofrem de excesso de peso ou obesidade (sendo esta última equivalente a 10%).

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