Mercado do DVD enfrenta primeira crise em Portugal

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O mercado do DVD entrou em quebra pela primeira vez em Portugal. Após anos de crescimento constante, 2005 inscreve a primeira recessão global na memória do sector menos vendas, menos aluguer e perdas de receitas estimadas em quase 7,5 milhões de euros. Editores e comerciantes concordam em acusar a crise económica e a pirataria como responsáveis por esta quebra sentida no mesmo ano em que as salas de cinema registam uma das maiores diminuições de sempre na afluência de espectadores.

Esta crise do mercado doméstico está filiada na recessão global vivida pela indústria entretenimento em 2005. A originalidade está no sentido dos números. Enquanto nos Estados Unidos os dados mais pessimistas apontam para um abrandamento na expansão do mercado de venda directa de DVD - que em 2005 terá ainda assim subido entre 5% e 9% -, em Portugal os editores têm já certeza de uma queda efectiva nas receitas, estimada em 4%.

São dados avançados ao DN por Paulo Santos, presidente da Associação Portuguesa de Editores de Videogramas (APEV). "Embora restem contas por apurar, relativas ao último trismestre, é seguro dizer que podemos cair até 4%", afirma este responsável. Uma queda que, traduzida em factura, significa um abaixamento nas receitas de aproximadamente 2,5 milhões de euros.

Mas o olhar dos editores sobre a crise nem é o mais pessimista. Para os comerciantes, "4% é seguramente um número aquém da realidade", afirma Jorge Pinto, director da Associação do Comércio de Audiovisuais de Portugal (Acapor), garantindo que "quem vende e aluga está a sentir uma quebra muito superior a isso". Números, porém, só os do mercado do aluguer de acordo com a estimativas da Acapor, os clubes de vídeo sofreram perdas de 30% em 2005, o que significa quase cinco milhões de euros a menos nas receitas.

Quanto à venda directa, explica Jorge Pinto, "é preciso perceber que o cenário varia muito consoante as superfícies comerciais. Algumas das unidades mais pequenas de venda são precisamente os vídeoclubes. E aí posso afirmar que temos associados a reportar quebras de 50%". No extremo oposto temos a cadeia de lojas Fnac, que em 2005 não perdeu, mas também não ganhou. Aqui, "o cenário é de estagnação", segundo explica o director de comunicação, Viriato Filipe, estimando que "talvez tenhamos um crescimento de 1% a 2%". Uma evolução que trava a tendência dos últimos dois anos, a ritmos superiores a 5%. "Mas podia ser pior", alerta este responsável "Não fosse o DVD musical, que este ano conheceu um boom de edições, e nem 1% teríamos, pois o cinema em DVD está definitivamente em crise."

Recessão global

Somadas as duas faces do mercado DVD - aluguer e venda directa - as perdas devem portanto situar-se nos 7,5 milhões. É a primeira vez que tal acontece neste mercado que cresceu consistentemente desde 2000 - "o primeiro ano em que o DVD ganhou alguma expressão no mercado, lembra Paulo Santos" - e que duplicou entre 2002 e 2004 (ver gráfico). As razões essenciais, concordam APEV e Acapor, são duas a crise que retraiu o consumo e o fulgurante crescimento da pirataria nos últimos dois anos.

E a crise não se fica pelo DVD. Sabe-se que quase dois terços dos portugueses (63,5%) não compram filmes e que mais de metade (53,1%) não os alugam. Mas sabe-se também que um terço (33,7%) nunca vai ao cinema. São indicadores de um estudo divulgado pela Inspecção-Geral das Actividades Culturais em Junho, que revelaram esta novidade a perda de espectadores nas salas não é justificável pela concorrência do DVD. "A verdade é que o dinheiro é pouco e é cada vez mais fácil ver um filme pirateado em casa, por meia dúzia de tostões, no preciso momento em que estreia nos cinemas", reconhece o responsável da APEV.

Quando resta ainda apurar Dezembro, o balanço dos primeiros onze meses de 2005 feito pelo Instituto Português do Cinema Audiovisual e Multimedia revela uma diminuição de 1,6 milhões de espectadores nas salas relativamente a 2004.

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