Mercado de trabalho
A última medição do INE indica que, no último ano até Setembro, se criaram 57 300 empregos líquidos e se reduziu em 12 500 unidades o número de desempregados. É seguramente uma boa notícia, por várias razões: o número de postos de trabalho destruídos está a baixar, as ofertas de emprego estão a subir em todos os sectores, agricultura, indústria e serviços, o que constitui um alargamento da tendência, confinada até aqui ao sector dos serviços; a taxa de actividade está a crescer, mesmo entre os trabalhadores mais idosos; estudar mais significa conseguir mais rapidamente um emprego, o que indicia que a requalificação de activos, como o programa "novas oportunidades" pode, a prazo, reforçar a tendência de expansão do emprego. Mas não deixa de ser relevante prestar atenção às características mais relevantes do mercado de trabalho. As empresas não podem recorrer a medidas transitórias de ajustamento das suas estruturas de custos, pela redução nominal das remunerações do seu pessoal, embora em períodos recessivos passados algumas o tenham feito, sem dar nas vistas, com pleno acordo de trabalhadores e de sindicatos, para garantir o nível de emprego. Para alcançar ganhos de competitividade dos custos relativos da mão-de-obra face à concorrência externa resta, assim, uma alternativa: ou actualizar os salários abaixo da inflação esperada, o que traduz dificuldades no desempenho da empresa e desmotiva os empregados, ou atingir ganhos de produtividade tais, que acomodem salários reais a crescer e custos do trabalho por unidade produzida a minguar. A primeira saída tem os dias contados, já que assenta em salários baixos, ao invés da segunda, baseada em produtividades acrescidas. Mesmo sem estatísticas desagregadas fiáveis, não será excessivo constatar que as empresas abertas aos mercados estrangeiros têm apostado na transformação produtiva, enquanto os produtores de bens e serviços resguardados da concorrência, perante uma procura interna fraca, vão ficando para trás.