Menos cantinas escolares abertas em férias por falta de procura

Muitos dos concelhos que, em 2011, abriram as cantinas para garantir a alimentação a centenas de crianças já voltaram a fechar. Outras câmaras fazem questão de manter a medida
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As férias da Páscoa que hoje começam não são para todos. Afinal, um número significativo de crianças portuguesas continua a frequentar a escola de todos os dias, em atividades de tempos de livres (ATL), e, entre essas, uma grande fatia senta-se à mesa da cantina, em muitos casos para garantir que almoça e lancha como deve. Ainda assim, muitos dos municípios que a partir de 2011 começaram a abrir as cantinas durante as férias - para dar resposta às situações de fome trazidas pela crise - já abandonaram essa medida.

Setúbal e Barreiro, dois dos concelhos que chegaram a servir refeições a alunos carenciados, optaram agora por ficar de fora. No Barreiro, o número de pedidos foi, desta vez, tão reduzido que, segundo fonte da autarquia, "não se justificava manter as cantinas abertas". O mesmo aconteceu no concelho da Marinha Grande, no distrito de Leiria. "Quando a crise se instalou no país, sentimos necessidade de dar esse apoio a algumas crianças do concelho, quando percebemos que havia algumas com carências alimentares. Mas acabámos por abandonar essa decisão à medida que as famílias se conseguiram organizar", conta ao DN Cidália Ferreira, vereadora da Educação, Cultura e Ação Social. Ao todo, o número de crianças abrangidas pelo apoio que então existia fixava-se nas três dezenas. "Atualmente não se justifica. Nós temos uma população de 39 mil habitantes e, desses, apenas cerca de mil estão desempregados", sustenta a vereadora.

"Os dados objetivos já têm dois anos, e apontam para a abertura das cantinas escolares em mais de metade dos municípios", disse ao DN fonte da Associação Nacional de Municípios Portugueses. Nesse rol está o município de Matosinhos, que na Páscoa de 2011 chegou a servir 500 refeições por dia nos diversos refeitórios das escolas do concelho. Volvidos seis anos, o panorama alterou-se. "O que eu acho é que aqui os efeitos positivos da geringonça se fizeram sentir", disse ao DN o vereador Correia Pinto, que há vários anos acompanha essa evolução dos números: "Tínhamos um número de refeições equilibrado até 2015, sempre acima das 300 por dia, durante o período de férias. No ano passado já se percebeu alguma diminuição, e neste ano temos cerca de 120 crianças inscritas para as refeições, o que é menos de metade", acrescenta o autarca, certo de que os números são "sinal de alguma descompressão na vida das famílias e nas respetivas carteiras".

Num concelho que em 2016 serviu cerca de 170 refeições diárias aos alunos que se inscreveram para tal, nas férias da Páscoa, há 16 refeitórios que a partir de hoje continuam a funcionar normalmente. No período letivo, a Câmara de Matosinhos serve um total de 5800 refeições por dia.

Já em Lisboa, o município garante o fornecimento de refeições (pequeno-almoço, almoço e lanche) a todas as escolas do 1.º ciclo (86) e jardins-de-infância (71) da rede pública durante a interrupção letiva das férias da Páscoa, à semelhança do que acontece em todas as outras interrupções letivas. "Todos os refeitórios escolares das escolas do 1.º ciclo e jardins-de-infância estarão abertos nesse período, sendo o horário igual ao praticado no período letivo, entre as 12.30 e as 14.00", revela fonte da autarquia. Em Almada, por exemplo, assiste-se a uma situação semelhante à de Matosinhos: basta que as crianças se inscrevam em cada uma das escolas básicas para lhes serem garantidas as refeições ao longo do dia.

Apoio à classe média em Sintra

A Confederação das Associações de Pais tem consciência de que este é um serviço essencial no país. Jorge Ascenção não tem dados sobre a realidade de todos os concelhos, mas acredita que a maioria o faz, mediante a inscrição necessária, até porque "essa necessidade se mantém". Em Sintra, o município liderado por Basílio Horta volta a garantir o acesso ao serviço de refeições escolares durante as próximas duas semanas. O presidente revelou ao DN que estarão abertos 92 refeitórios escolares, onde se estima virem a ser servidas 37 500 refeições, mais cinco mil do que no ano passado. Este é, de resto, um dos casos em que se regista um aumento, ao contrário da maioria. Basílio Horta acredita que tal se deve "ao facto de ser um bom serviço, e cada vez mais conhecido", em vigor há dois anos.

Descontadas as comparticipações das famílias e do Ministério da Educação, esta medida representou, para o Município de Sintra, "um encargo financeiro de 2,5 milhões de euros, sendo o investimento total de cinco milhões e 600 mil euros". O autarca sublinha uma preocupação em apoiar "não apenas as famílias mais carenciadas, mas também as de classe média, pois muitas delas também vivem com dificuldades, apesar do rendimento que auferem já não ser abrangido pelos escalões da ação social".

Garantir pelo menos uma refeição

As cantinas escolares dos concelhos de Sesimbra e do Montijo vão servir mais de 500 refeições diárias, mantendo as portas dos refeitórios abertas durante a pausa letiva da Páscoa, a alunos com comprovadas carências económicas.

"Já temos este projeto desde 2010, quando a situação social se tornou mais aguda no país e sabemos que é a forma de garantirmos que as nossas crianças fazem, pelo menos, uma refeição por dia", justifica a vereadora da Câmara de Sesimbra, Felícia Costa, assumindo que "há várias famílias" no concelho que precisam desta ajuda e que sem ela algumas crianças passariam por grandes dificuldades para se alimentar.

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