Menores "viciados" apostam sem controlo no Placard
Há menores viciados nas apostas do Placard, o jogo da Santa Casa da Misericórdia lançado em setembro do ano passado que permite apostar nos resultados dos eventos desportivos. Segundo o Jornal de Notícias, nos dias dos grandes jogos de futebol há adolescentes que chegam a prescindir do dinheiro para as refeições, usando-o para apostar, o que aponta para um grau de dependência preocupante.
Ao JN, a Santa Casa da Misericórdia garantiu não ter conhecimento da situação e referiu que, se vier a ter, "atuará nos termos da lei": é aos mediadores dos jogos da Santa Casa que cabe fazer cumprir as regras, neste caso, impedir que joguem os menores de 18 anos.
Em Alpiarça, onde na passada terça-feira a GNR identificou dois jovens de 15 e 16 anos que apostavam, assim como o proprietário de uma papelaria próxima da escola secundária, o alerta foi dado pelos encarregados de educação, que garantiram que os adolescentes deixavam de comprar comida na escola e usavam o dinheiro para o jogo. O proprietário da papelaria incorre agora numa contraordenação que pode ir até aos 25 mil euros e arrisca-se a perder a licença de exploração de atividade. Foi o primeiro caso sinalizado pelas autoridades, mas a prática será comum em muitas localidades por todo o país.
Os dois jovens identificados foram referenciados à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens; tinham registado um boletim no valor de dois euros, com ganhos de 28,90 euros.
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Para apostar no Placard pela primeira vez, é necessário mostrar o cartão do cidadão ou de contribuinte e registar o número. O terminal entrega depois um talão, com o número de identificação fiscal (NIF) do jogador, para apresentar nas vezes seguintes. De acordo com o JN, os menores usam o talão com o número de contribuinte dos pais ou de um colega maior de idade. Alguns chegam mesmo a registar-se com o próprio NIF, já que os terminais não detetam se o número pertence a um menor. Ao jornal, vários agentes dos jogos da Santa Casa relataram situações de verdadeira "loucura", mencionando casos em que os jovens vêm sozinhos dizendo que têm autorização dos pais ou que a mãe está à espera no carro.
No caso de as apostas dos menores serem premiadas, os mediadores nada podem fazer a não ser entregar o prémio: se a aposta foi registada, não é possível reter o talão vencedor.
Desde o lançamento, em setembro de 2015, o Placard registou mais de 65 milhões de euros em vendas brutas, indica o JN, precedido apenas pelo Euromilhões e pela Raspadinha, que está no topo das preferências dos apostadores.
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