Menor raptado por 12 quilos de haxixe relata em tribunal do Porto sucessão de agressões
"Cada vez que eu dizia que não sabia, levava um chuto", disse o rapaz, que tinha 15 anos à data dos factos e que depôs no tribunal de São João Novo, no Porto, na ausência momentânea dos arguidos do processo, a pedido do Ministério Público (MP).
As agressões, testemunhou, ocorreram num momento em que já teria sido atirado para a caixa de carga de um furgão, onde lhe taparam a cabeça com um saco de plástico e uma camisola preta e lhe colocaram uma corda em volta do pescoço, além de lhe amarrarem os pulsos com abraçadeiras plásticas.
São quatro os acusados de raptar e agredir o rapaz. Um deles esteve ausente e os restantes três optaram pelo silêncio.
Os factos ocorreram na noite de 05 de maio de 2017, em Ermesinde, no concelho de Valongo, e os quatro acusados no processo, atualmente com idades entre 23 e 40 anos (três deles irmãos), estão todos acusados pela prática, em coautoria material e sob a forma consumada, de um crime de rapto agravado.
No caso de um dos três irmãos acresce a imputação de um crime de coação agravada, ofensas à integridade física qualificada e outro ainda de furto simples.
No seu testemunho, ao longo de quase toda a manhã de hoje, o jovem ofendido admitiu dificuldades em explicar "exatamente quem fez o quê", dado que parte dos factos ocorreram quando se encontrava de cabeça tapada.
De acordo com o MP, num relato que o jovem secundou em tribunal, os arguidos acreditavam em "rumores" que "circulavam" em Ermesinde, segundo os quais o pai do menor teria escondido 12 quilos de haxixe, antes de ser detido por narcotráfico no âmbito de duas operações da PSP do Porto, sob o nome de código "Fruta de Marrocos", ambas realizadas em março desse ano.
Na versão credibilizada pelo MP para os factos ocorridos na noite de 05 de maio de 2017 indica-se que o menor foi atraído a um local discreto por um dos arguidos. "Desconfiado do intuito daquele encontro", ainda assim foi.
Depois de insistentemente questionado sobre a localização do "resto da droga" do pai, acabou atirado para um furgão Mercedes.
Taparam-lhe a cabeça e manietaram-no, continuando a exigir-lhe, por entre agressões, que indicasse o paradeiro do haxixe.
Conta a acusação que o rapaz foi levado para um barracão em Alfena, outra localidade do concelho de Valongo, onde a coação e as agressões prosseguiram.
A sucessão de episódios violentos só terminaria quase duas horas depois do início, quando o menor foi abandonado ainda com o saco de plástico na cabeça.
Apesar de ameaçado de morte, caso relatasse o que tinha sucedido, foi à esquadra local da PSP e contou tudo.
A sessão julgamento foi marcada por problemas no sistema informático do tribunal.