Portuguesa que sobreviveu a incêndio envenenada com cianeto
Uma menina portuguesa que sobreviveu ao incêndio no prédio Grenfell Tower, em Londres, onde morreram cerca de 80 pessoas, foi envenenada com cianeto. Luana Gomes, de 12 anos, a mãe e a irmã receberam tratamento para combater os efeitos deste gás venenoso, após os médicos confirmarem o diagnóstico de Luana.
O cianeto poderá ter sido libertado pela queima dos plásticos ou do isolamento do prédio de 24 andares, durante o incêndio de 14 de junho.
Andreia Gomes, mãe de Luana, estava grávida de sete meses na altura do incêndio e perdeu o bebé. Mesmo antes do diagnóstico oficial, Andreia e as duas filhas foram colocadas em coma induzido e tratadas com um antídoto de cianeto.
Segundo a BBC, Andreia ficou em coma durante quatro dias, Luana durante seis dias, e a irmã, Megan, durante uma semana. A família Gomes residia no 21.º piso.
O jornalista e analista ambiental da BBC Roger Harrabin explicou que é comum haver libertação de cianeto em incêndios urbanos porque este componente é usado no fabrico de muitos plásticos que acabam por arder.
"Parece dramático porque o cianeto é conhecido pela cultura popular como a arma do envenenamento mas os cianetos também são produzidos por algumas bactérias, fungos e algas", explicou Harrabin. Está também em algumas sementes e caroços de frutas, como maçãs.
Os sintomas do envenenamento incluem dores de cabeça, tonturas, confusão, vómitos e convulsões e em altas doses o cianeto é mortífero.
Segundo a BBC, Andreia Gomes tem manifestado uma profunda indignação contra quem é responsável por decidir construir a Torre Grenfell com materiais baratos, em vez que serem usados materiais que retardem a disseminação do fogo.
"Mataram o meu filho. Eu podia ter morrido. A gravidez estava nos sete meses e a correr normalmente. Ele podia ter sobrevivido. Mas, devido às condições do edifício, acabou por falecer", disse.
O marido, Márcio Gomes, disse por seu lado à BBC que, assim que se apercebeu do fogo, decidiu fugir com a família cerca de 04:00, quando as chamas começaram a atingir o apartamento do 21.º andar.
Mário Gomes descreveu como ele e a sua família tiveram de saltar por cima de corpos à medida que tentavam descer as escadas do edifício, totalmente cheias de fumo.
"O que não contava era com a quantidade de corpos por cima dos quais tivemos de saltar ou mesmo pisar. Estávamos a pisar pernas e braços de pessoas", concluiu.
A polícia britânica confirmou no final do mês passado que serão necessários vários meses para se conhecer o balanço definitivo do incêndio. Estima-se que tenham morrido 80 pessoas no incêndio ocorrido há um mês e outras dezenas tenham ficado feridas.
Há ainda várias vítimas por identificar e a polícia londrina procura agora pelos mais pequenos indícios que possam ajudar nesta tarefa, como fragmentos de ossos e dentes.
O incêndio na Torre Grenfell teve origem num frigorífico, segundo a polícia.