Mendigos e malandros no palco do Teatro Aberto

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Em 1992, Mário Redondo estreou- -se como actor na Ópera dos Três Vinténs do Novo Grupo. Integrado no coro, fazia, então, Jimmy, um Mendigo e um Polícia. Este ano, já actor e cantor reputado, Mário Redondo volta ao texto de Brecht, outra vez encenado por João Lourenço, mas agora como protagonista ele será McHeath, ou seja, Mac da Naifa, o gangster. A nova produção de Ópera dos Três Vinténs, com estreia marcada para 6 de Maio, é a grande aposta desta temporada no Teatro Aberto, em Lisboa.

João Lourenço, o director artístico, explica que a ideia inicial partiu de João Paulo Santos, director musical deste teatro, que tinha vontade de fazer a Ópera do Mendigo, de Benjamin Britten (a partir de John Gay/Pepush). Como se sabe, a Ópera do Mendigo serviu de base à Ópera dos Três Vinténs de Bertolt Brecht/ Kurt Weill e, daí, surgiu a ideia de encenar as duas peças "em diálogo". A 24 de Fevereiro estreia-se o Mendigo, dois meses depois, no mesmo espaço e cenário (de João Mendes Ribeiro), apresentam-se os Três Vinténs.

"Costumo dizer que Brecht é um amigo que eu tenho ali numa esquina e de vez em quando acho que há uma peça dele que faz sentido", confessa João Lourenço. No caso da Ópera dos Três Vinténs, parece-lhe claro que o tema da corrupção é da maior actualidade "As ligações ilícitas entre a polícia e os bandidos, que são os senhores do poder. São gangsters disfarçados. Nesse sentido, a peça ainda é mais actual agora do que era há dez anos. Porque hoje já não se esconde essa corrupção." Apesar de trabalhar o texto pela segunda vez, garante que "irá ser um espectáculo completamente diferente do anterior". Por causa do cenário, dos figurinos, dos actores (alguns poderão manter-se, como Irene Cruz, mas haverá convidados e estreias absolutas, resultado de um casting). E também porque João Lourenço e a dramaturgista Vera San Payo de Lemos estão a reler o texto e colocaram a acção nos anos 50.

Além deste díptico, a programação do Teatro Aberto para esta temporada inclui mais duas estreias O Itinerário do Sal (19 de Maio), peça de teatro electroacústico com autoria e interpretação de Miguel Azguime; e Homem Branco, Homem Negro, de Jaime Rocha (15 de Junho), peça vencedora do Grande Prémio de Teatro Português SPA/Novo Grupo, em 2004. Para já, está ainda em cena Democracia, de Michael Frayn, e a 16 de Março repõe-se Copenhaga, do mesmo autor. A programação completa-se com mais uma edição do Festival Música Viva (16 de Setembro).

Mas as novidades não se ficam por aqui. Com a abertura (finalmente!) do restaurante do teatro -- que se chamará Pano de Boca e será especializado em comida alemã -, João Lourenço gostaria de criar uma nova dinâmica naquele teatro, que, apesar das óptimas condições, ainda não conseguiu a visibilidade do antigo, e entretanto demolido, espaço da Praça da Espanha.

Outro projecto conhecerá a luz dentro de poucas semanas Quero Ser Actor (ed.Caminho) é um livro de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, com ilustrações de Henrique Cayatte, que conta "uma aventura" de um grupo de alunos dentro do Teatro Aberto. O livro é um autêntico guia para uma visita ao teatro, que João Lourenço gostaria de tornar realidade. Mas falta gente e dinheiro para o fazer. Para que este e outros sonhos não morram (também gostava de remontar o musical Sweeny Toddy), João Lourenço tem que encontrar mecenas que completem o subsídio do Instituto das Artes (590 mil euros).

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