Memória e modernismo no Parque Mayer

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Lisboa. Teatro Capitólio

"A integração do Capitólio pressupõe uma aproximação ao sítio urbano - o Parque Mayer - e cénica ao reabilitar o espaço como lugar de teatro." É desta forma que o arquitecto Alberto Souza Oliveira aborda a requalificação do Teatro Capitólio, no Parque Mayer, em Lisboa.

Da autoria do arquitecto Luís Cristino da Silva (1896-1976), o Capitólio foi inaugurado em 1931 e constituiu um edifício de enorme valor histórico e arquitectónico por ter sido o primeiro exemplar modernista, embora conjugado com influências Art Deco, a ter sido realizado em Portugal. Foi ainda considerado um exemplo notável do princípio do Movimento Moderno na Europa por teóricos deste movimento cultural, que se iniciou no princípio do século XX, e que privilegiou o funcionalismo dos seus espaços, a rejeição do ornamento e uma visão da arquitectura e do arquitecto como impulsionadores de um tempo socialmente mais justo.

O edifício, emblemático também na vida cultural lisboeta por apresentar sessões de cinema, teatro e music-hall, notabilizou--se por combinar um grande salão com um terraço para espectáculos ao ar livre. No interior, a "Sala de Espectáculos" tipo "caixa", incluía um palco versátil e uma "Torre de Cena", que possibilitava a criação de cenários complexos para espectáculos teatrais.

"Transformar o Capitólio é repor a sua "grande sala" e abri-la, lateralmente, para uma grande praça que "encaixa" o espectáculo", refere Souza Oliveira, que na requalificação introduziu maior versatilidade e inovação na utilização da grande sala. O objectivo é o do Capitólio, mais uma vez, ser um espaço contemporâneo e poder comportar o maior número possível de formas de expressão cultural , como teatro, dança, música, novo circo e as tendências de interdisciplinaridade artística entre as áreas performativas e formas mais convencionais da expressão criativa.

"A grande caixa" poderá ser transformada numa única "arena", experimentando os "limites" e explorando múltiplos formatos de espectáculos.", refere o arquitecto. Para tal irão ser introduzidas alterações, como um "esqueleto técnico", que sem desrespeitar a "leveza" do edifício original, irá apetrechar o "palco" e a "caixa" com meios técnicos de cena, como luz, som e vídeo. O palco também foi adaptado para comportar na maioria da sua área útil de representação um pavimento assente em elevadores motorizados que podem evoluir desde a c ota de sub-palco até cotas superiores ao palco.

Por outro lado, "o volume da torre de cena foi dotado de maquinaria tecnologicamente evoluída e com grande capacidade responder aos desafios contemporâneos de manobra cénica, cumprindo elevados padrões de segurança e fiabilidade", refere Souza Oliveira, que acrescenta que "os princípios orientadores de todo o desenvolvimento deste projecto foram o de implementar soluções que respondam às orientações do Programa, que representam elevados padrões de fiabilidade, segurança e versatilidade, sem perder de vista soluções que signifiquem baixos custos de exploração".

Como resultado final, e conforme conta o arquitecto, "atingiu-se uma solução global "limpa" que preserva a memória deste espaço emblemático".

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