Memória dos atletas de alta competição é melhor do que a média. Eles confirmam

Submetidos a situações emocionalmente intensas durante testes de memória, os desportistas revelaram um rendimento melhor
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Sob pressão psicológica, a memória dos atletas de alta competição é 20% melhor do que a média. As conclusões são de um estudo promovido pela Dunlop Mindset, em colaboração com a Universidade de Londres, segundo o qual, em situações de stress intenso, o cérebro destes desportistas é 10% mais rápido do que o das pessoas que não praticam desporto. Atletas de alta competição contactados pelo DN explicam porquê. "Desde muito novos que estamos habituados a lidar com a obrigatoriedade de ganhar, com a pressão dos bons resultados, com a pressão dos adeptos", diz ao DN o ex-central Beto.
Segundo o ex-futebolista, de 40 anos, os atletas de alta competição "habituam-se, logo desde a formação, a executar, a reagir rápido", daí considerar que os resultados do estudo possam "fazer sentido". "A exigência é muito grande. Há pressão para se estar no melhor nível, na melhor condição física, e a avaliação por milhões de pessoas."

De acordo com a Dunlop, participaram no estudo os atletas John McGuiness, vencedor do TT da Ilha de Man por diversas vezes, o surfista Andrew Cotton, Colin Turkington, duas vezes campeão britânico de Touring (BTCC), o campeão britânico de skate Peter Connolly, o prestigiado alpinista Louis Parkinson e o piloto de Le Mans Oliver Webb. Foram submetidos a testes desenvolvidos pelo investigador Vincent Walsh, do Instituto de Neurociência Cognitiva da Universidade de Londres, que pretendiam "gerar stress e ansiedade no cérebro".

Os resultados demonstraram que "os desportistas de alta competição são capazes de manter a calma quando se encontram sob pressão e o seu rendimento é significativamente melhor do que o dos não desportistas." O cérebro é 10% mais rápido do que a média e a memória 20% melhor. "Os atletas de alta competição levam a cabo ações que a muitos de nós parecem inalcançáveis, mas o que é fascinante é a sua forma de pensar quando abordam estes desafios. Quando algumas decisões podem marcar a diferença entre o sucesso e o fracasso, o estudo destaca que os desportistas reagem vários segundos mais depressa ao realizar as provas. Estes segundos não são aparentemente cruciais, mas para qualquer desportista podem fazer a diferença entre ganhar ou perder", afirmou Walsh.

O jogador de futsal Arnaldo Pereira, de 37 anos, também considera que os resultados fazem sentido, uma vez que os atletas de alta competição "estão habituados à pressão". "É óbvio que as coisas se fixam melhor quando há trabalho diário, que depois se reflete no jogos. A execução é mais rápida, porque o jogador está habituado a trabalhar aquela situação", afirma. Na sua opinião, a forma como uma pessoa reage à pressão também estará relacionada com a idade: "Um jogador com mais experiência sabe melhor como reagir do que outros jogadores."

Vítor Fortunato, antigo internacional português de hóquei em patins, confirma que "são submetidos à pressão do jogo e da competição", pelo que os resultados do estudo promovido pelo fabricante de pneus "têm a sua lógica". Aos 46 anos, depois de uma longa carreira nos altos patamares do desporto, Vítor Fortunato reconhece que "às vezes surgem situações complicadas na vida" e os atletas de alta competição têm "outra serenidade e tranquilidade para resolver". "Sinto isso."

Em comunicado, a Dunlop explica que, para avaliar o comportamento dos desportistas foi usado o International Affective Picture System (IAPS), "uma base de dados de imagens que não podem ser encontradas na internet, desde objetos e cenas quotidianas, até imagens extremamente peculiares, que causam diferentes efeitos sobre o cérebro e podem ser utilizadas para gerar stress de forma intencional."

Segundo Walsh, os atletas foram "mais precisos nos testes de memória após a sua exposição a estímulos negativos enquanto os não desportistas foram distraídos por esses estímulos." Depois de ser exposto a situações emocionalmente intensas, o rendimento do grupo não só não sofreu quebras, como foi melhorando. "Isto faz sentido, concretamente no caso de escalada ou provas de moto, em que os desportistas devem enfrentar obstáculos e necessitam de tomar decisões alternativas", frisou.

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