Medo de morrer levou Damon Hill a abandonar a Fórmula 1

O único filho de um campeão mundial a repetir o feito do pai revelou, finalmente, o motivo do seu abandono precoce da competição
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Os Hill são a única família da história da Fórmula 1 a ter mais do que um campeão. Graham Hill, em 1962, conquistou o título que revalidou em 1968. Algumas décadas depois, Damon Hill repetiu o feito do pai, ao chegar ao título mundial em 1996. Três anos depois, para surpresa de muitos, decidiu retirar-se das pistas. Os motivos foram agora revelados.

Na autobiografia Watching the Wheels, 17 anos após o adeus à Fórmula 1, Damon Hill revelou que sentiu que ia ter o mesmo desfecho que Ayrton Senna. O último colega do malogrado piloto brasileiro confessou que começou a temer a morte. "Sabia que estava um acidente à minha espera numa curva qualquer. Senti que ia morrer, tinha medo. Por isso, decidi retirar-me", escreveu o inglês de 55 anos, afetado psicologicamente pelo acidente que provocou a morte de Senna.

"Quando decidi parar não acompanhava as notícias, não lia jornais, não via as corridas. Foi assim durante cinco ou seis anos", recordou. Os medos foram ultrapassados, tanto que Hill tornou-se um comentador televisivo popular em eventos de corridas, tendo inclusive participado no programa Top Gear. É, porém, na imprensa escrita que conseguiu maior sucesso, ao colaborar com artigos para diversas revistas da especialidade.

Schumacher fazia "batota"?

Uma das passagens mais polémicas da autobiografia envolve Senna e Michael Schumacher. O antigo piloto admitiu que em 1994, no ano da morte do piloto brasileiro, o antigo heptacampeão mundial poderia estar a "fazer batota", algo que terá levado Senna a elevar os seus riscos na tentativa de vencer.

Ayrton Senna ganhou as três pole positions no arranque da temporada, mas Michael Schumacher venceu todas as corridas. Segundo o relato de Damon Hill, havia suspeitas de que o monolugar do piloto alemão não cumprisse com todos os regulamentos previstos. "Havia o pensamento na mente de Ayrton de que Schumacher estaria a fazer batota", revelou. Anos mais tarde, ficou provado que a Benetton, escuderia pela qual Schumacher se sagrou campeão mundial, pela primeira vez, em 1994, usava um sistema de reabastecimento que não cumpria com as diretrizes da Fórmula 1. Segundo Damon Hill, também havia suspeitas de que a marca estaria a utilizar um controlo eletrónico de estabilidade que não era permitido.

De acordo com o seu antigo colega, Senna não percebia como é que conseguia sempre dar as voltas mais rápidas às pistas, mas não era capaz de aguentar o carro durante tanto tempo quanto Schumacher. A 1 de maio de 1994, na curva Tamburello, no GP de Itália, o brasileiro perdeu a vida e chocou o mundo.

Damon Hill considera que a morte de Senna fez que Schumacher acelerasse para o recorde de títulos mundiais, caso contrário não seria possível. "A carreira de Schumacher arrancou graças à morte precoce de Senna. Mesmo tendo problemas no motor, naquele ano o Ayrton tinha todas as condições para ganhar o título, nem que fosse na última curva da última corrida. Por causa daquele acidente, acabámos por ver a hegemonia do Michael", contou.

Hill admitiu, ainda, que a F1 já não move a paixão de outros tempos. "Por que é que nenhum dos pilotos atuais tem tanto respeito e consideração quanto os do passado? Por que é que nenhum é polivalente como Senna, Lauda e Hunt? Porque podem ser rápidos, mas não são habilidosos. Na década de 70, a maior parte dos pilotos atuais não davam uma volta à pista. Na altura, as máquinas tinham menos tecnologia e eram mais manuais. Hoje é diferente", comparou.

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