Médicos temem ruptura nos exames para cancro e coração

Fecho de um reactor nuclear que produz moléculas essenciais para o diagnóstico de doenças já está a atrasar testes em Portugal. Clínicos receiam que falhas no fornecimento possam causar grandes dificuldades.
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Os médicos portugueses temem que haja ruptura na realização de exames essenciais ao diagnóstico de cancros e de problemas do coração. Em causa está a paragem de um reactor nuclear canadiano que é responsável por um terço da produção mundial de isótopos radioactivos, moléculas usadas para criar um medicamento essencial para realizar exames. Esta situação já está a gerar atrasos em Portugal. Luís Oliveira, especialista em medicina nuclear, disse ao DN que "já se sentem dificuldades há semanas e há atrasos de alguns dias nas marcações".

Esta molécula, utilizada para criar um radiofármaco que é injectado no doente, é "usada em 90% dos exames, neste caso as cintigrafias", explica o médico da clínica Quadrantes. Um isótopo é uma espécie de "farol que serve para vermos a zona ou órgão afectado", avança. Neste caso pode servir para detectar ou datar problemas oncológicos, do coração, endocrinológico e ósseos, ou outros.

O reactor de investigação canadiano de Chalk River, que tem meio século, foi parado em meados de Maio na sequência de uma fuga de água pesada. A Energia Atómica do Canadá, a sociedade pública que a explora, previu inicialmente que a paragem do reactor duraria pelo menos três meses.

Mas o presidente do Conselho de Administração, Hugh MacDiarmid, anunciou que não voltará ao serviço "antes do fim de 2009". MacDiarmid invocou o estado do reactor e da complexidade das reparações para explicar este atraso.

Luís Oliveira refere que este é um dos dois maiores reactores a nível mundial, a que se junta o da Holanda. Além destes, existem mais dois na Europa e um na África do Sul, mas de menores dimensões. "Havendo uma unidade parada, as outras têm de compensar a produção. O problema é que já estão no seu limite", frisa.

As limitações de fornecimento podem ainda agravar-se quando os restantes reactores fizerem manutenção, processo que demora cerca de um mês. "É expectável que durante este ano tenham de o fazer, porque os equipamentos são antigos e por razões de segurança."

Para já, as clínicas portuguesas que realizam estes exames estão a tentar minorar os problemas, apesar de admitirem atrasos. "Não sabemos o que pode acontecer nos próximos meses, mas a produção destes isótopos pode entrar em ruptura e os atrasos sobreporem- -se", sublinha.

Também Jorge Espírito Santo, presidente do colégio da especialidade de oncologia da Ordem dos Médicos, teme a ruptura, porque o fornecimento afecta todos os países: "Se não for possível compensar estas lacunas podemos deparar-nos com cortes no fornecimento."

Além das cintigrafias, os isótopos são usados nas tomografias por emissão de positrões (PET) e na braquiterapia, tipo de radioterapia que elimina células através da libertação de energia, refere o oncologista.

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