Mediano advogado e professor em Paris

Poderia ter sido advogado, professor, jornalista mas foi "empurrado" para a política
Publicado a
Atualizado a

Se for ao Dicionário de História de Portugal, do Joel Serrão, veja as entradas "Constituições" e vai ver que a maior parte delas estão assinadas MS [Mário Soares]"(O Que Falta Dizer). "Poderia ter sido advogado, professor, jornalista [chegou a escrever com o pseudónimo Carlos Fontes e, do exílio parisiense, também assinaria como Clain d"Estaing textos para o República, dirigido pelo seu camarada Raul Rego], talvez escritor", lembrava no discurso do jantar dos 80 anos, em que proferiria o célebre "basta!" relativo às pressões para se candidatar às presidenciais de 2005. "As circunstâncias empurraram-me para a política - antes e depois do 25 de Abril -, onde, aliás, ultrapassei, dadas as funções que exerci, tudo o que algum dia poderia ter ambicionado ou sequer imaginado", admitia no mesmo discurso.

Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras de Lisboa, em 1951, mas percebeu que um emprego público como professor estava-lhe vedado pelo regime (ainda lecionou no ensino particular Filosofia e de Organização Política e chegou a dirigir o Colégio Moderno, fundado pelo pai). Voltaria também a ser docente quando se exilou em França - chargé de cours nas universidades de Vincennes (Paris VIII) e da Sorbonne (Paris IV) e professor associado na Faculdade de Letras da Universidade da Alta Bretanha (Rennes) - e, após abandonar Belém, num seminário de Relações Internacionais na Universidade de Coimbra.

Depois, "aluno mediano, mas cumpridor" ( "já então usava o discurso fácil, só que o rigor do Direito exige estudo atento e adequada disciplina mental"), como recordaria Marcello Caetano (Confidências do Exílio), licenciou-se em Direito em 1957, com a mesma média que a obtida em Letras - 13 valores - e foi estagiar no escritório de Gustavo Soromenho. Defendeu presos políticos nos pseudo-julgamentos do Tribunal Plenário, como Octávio Pato e Palma Inácio, implicados no caso de Beja, membros da FAP (cisão maoísta do PCP) e do MPLA. Admitiu ter ganho "uns dinheiros" num ou noutro caso que lhe chegaram ao segundo andar da Rua do Ouro, onde tinha o escritório, com que faria a casa em Nafarros projetada pelo amigo Keil do Amaral e efetuaria a viagem pelo mundo em 1970, mas, por norma, não costumava receber muito, porque, resumia, era "um advogado de casos medianos, de divórcios, sucessões, pequenas coisas" (O Que Falta Dizer).

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt