MC Bin Laden reinou no Carnaval brasileiro

Tá Tranquilo, Tá Favorável é o hit do momento no Brasil. Funkeiro Jefferson Lima, que homenageia o terrorista saudita no nome de guerra mas é fiel de uma igreja evangélica
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Cada Carnaval brasileiro lança aquilo a que no país se chama música-chiclete, de refrão fácil e original, que não sai das rádios, das redes sociais e, às vezes, da cabeça mesmo de quem não a suporta. O de 2016 produziu Tá Tranquilo, Tá Favorável, de MC Bin Laden, cantor de 22 anos cujo verdadeiro nome é Jefferson Lima. Com vários adereços kitsch, 117 quilos, a maioria deles na barriga flácida, MC Bin Laden subverteu as regras de um país que cultua o corpo. Com bom humor, conquistou fãs, entre os quais Neymar, que festejou o último golo do Barcelona frente ao Celta de Vigo com a coreografia da música.

O videoclip de MC Bin Laden já conseguiu quase 20 milhões de visualizações no YouTube, facto que motivou a gigante Nike a patrociná-lo, mesmo sendo uma empresa com base nos EUA e o cantor homenagear um terrorista inimigo dos norte-americanos (MC é de mestre-de-cerimónias). "Mas eu sou um Bin Laden do bem", diz o jovem, que se faz acompanhar por um duo de coristas de rosto tapado chamado Os Iraquianos, que responde pelos nomes de Saddam e Salahin.

No vídeo, como a maioria dos funkeiros - intérpretes de funk, estilo de música nascido nas favelas cariocas e inspirado no freestyle norte-americano, que migrou para São Paulo, de onde Jefferson Lima é natural - MC Bin Laden recorre a adereços que causam impacto. Fuma charuto e bebe champanhe, tem uma corrente de ouro com o símbolo yin-yang, aparelho nos dentes, óculos espelhados, cabelo rapado à exceção de uma madeixa metade loira, metade morena, apenas uma axila rapada, sinal de hang loose constante, e a tal barriga proeminente destapada. Gabriel, avançado do Santos, clube de que MC Bin Laden é adepto, imitou uma das suas danças após um golo. Neymar, ex-estrela do mesmo clube e ídolo do funkeiro, também aludiu ao "estilo" em pleno Camp Nou. "O vídeo é para recalcados", explica MC Bin Laden ao jornal Folha de S. Paulo, a propósito de versos como "nem só playboy pode viver em Copacabana". O símbolo yin-yang serve, diz o cantor, para mostrar os seus dois lados. Um explosivo: "Queremos fazer dos nossos bailes funk um Afeganistão." E outro suave. "A minha namorada, Maryellen, me levou a Deus", conta o músico, hoje fiel da Igreja Evangélica Resgate para Cristo. Por vontade do MC Bin Laden, o primeiro filho com Maryellen, chamar-se-ia Neymar Disney. "Mas não sei se ela topa", lamenta-se. O excesso de peso não é problema para o funkeiro. "Passei fome, no armário de casa só havia uma baratinha para lá e para cá, quando pude comer, comi tudo o que tinha vontade", revela o ex-vendedor de água na rua e ex-carregador de ferro-velho que não passou do oitavo ano mas sonha estudar teologia "para conhecer melhor David e Jesus Cristo".

Hoje cobra 20 mil reais [cerca de cinco mil euros] por atuações de 30 minutos. Com a vida tranquila e favorável, tem até resposta na ponta da língua quando é gozado pela gordura: "Um dia, uma menina perguntou-me se eu queria um soutien, respondi que sim porque tinha mais peito do que ela".

*Em São Paulo

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