May em Bruxelas pressionada a explicar para que quer adiar Brexit

A oito dias da data prevista para a saída do Reino Unido da União Europeia, a primeira-ministra britânica enfrenta hoje aquela que é descrita como a mais tensa cimeira de sempre
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Os líderes europeus reúnem-se esta quinta-feira em Bruxelas, no período mais "crítico" do Brexit, para discutir extensão do Artigo 50º. A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, terá que dar explicações sobre a razão do pedido de adiamento que endereçou na quarta-feira à União Europeia.

No exterior do edifício do Conselho Europeu um grupo de ativistas organizou uma iniciativa satírica a criticar a saída da UE. Porém, com a exceção de dezenas de jornalistas e de alguns olhares curiosos, a ação teve um impacto limitado.

Nos corredores diplomáticos em Bruxelas ninguém esconde que todas as opções "estão em aberto" e nem o cenário que todos querem evitar é descartado, ou seja, uma saída desgovernada acidental do Reinio Unido, "por inação", já no dia 29. Essa continua a ser uma possibilidade admitida como real.



Fontes ouvidas pela TSF admitiram que esta será a cimeira mais "tensa" de sempre para Theresa May. A primeira-ministra será "pressionada com perguntas" de todos os líderes europeus sobre o adiamento do Brexit.

Os pontos que levantam dúvidas ao mais alto nível dentro do Conselho Europeu são, em primeiro lugar, qual a data, o porquê e qual o propósito do adiamento.

A Theresa May deverão ainda ser pedidas garantias sobre a aprovação do acordo de retirada, na próxima semana, por parte do Parlamento britânico, para que alguma coisa de concreto saia desta cimeira. Por outro lado, reconhece-se que essas garantias "não estão ao alcance" da primeira-ministra, "por não dependerem dela".

Traçar cenários sobre o Brexit parece ter-se tornado uma tarefa impossível e aquilo que várias fontes admitem como provável é que a cimeira de hoje venha a ter uma réplica na próxima semana, embora sem garantias que nesse novo encontro haja um desfecho positivo.

Condições apresentadas a Londres



Ontem, o presidente do Conselho Europeu admitiu a extensão do prazo do Brexit, previsto para dia 29 de março, na condição de que o Parlamento britânico aprove o acordo de saída. Numa curta declaração que proferiu perante os correspondentes em Bruxelas, Donald Tusk prometeu "paciência e boa vontade" para desatar o impasse em que o Brexit está mergulhado. Porém, admitiu que há uma "fadiga do Brexit", mas "acredita" que os 27 poderão dar luz verde à extensão, se as condições forem cumpridas em Londres.

"De acordo com as consultas que realizei, por estes dias, acredito que uma extensão curta será possível, mas condicionada a uma aprovação do acordo de retirada na câmara dos comuns", frisou o responsável polaco, admitindo que, "para ajudar", Bruxelas pode até comprometer-se a vincar natureza temporária do chamado Backstop para a Irlanda, cumprindo "o acordo de Estrasburgo".

"Acredito que isso será possível. E, do meu ponto de vista, não cria riscos, especialmente se for para ajudar o processo de ratificação no Reino Unido", afirmou Donald Tusk, salientando que se tudo correr dentro das condições propostas, a extensão do Artigo 50º será formalizada "na próxima semana". Caso contrário, será convocada uma cimeira europeia extraordinária, para discutir a retirada do Reino Unido da União Europeia.



"Embora o cansaço do Brexit seja cada vez mais visível e justificado, não podemos desistir de procurar, até o último momento, uma solução positiva. Reagimos com paciência e boa vontade a inúmeras reviravoltas dos acontecimentos e estou confiante de que não nos faltarão paciência e boa vontade, no ponto mais crítico neste processo", disse na curta declaração, perante os correspondentes em Bruxelas.

O presidente do Conselho Europeu afirma que a proposta de extensão apresentada pela primeira-ministra britânica levanta um conjunto de questões que serão trabalhadas já hoje na cimeira europeia.

Extensão curta do Artigo 50º



Nos corredores de Bruxelas admite-se que "está tudo em aberto", embora haja quem defenda que uma extensão do Artigo 50º não poderá contaminar as eleições europeias, o que implicaria que a data marcada para a saída não poderia ir para além do dia 23 de maio (data em que nos outros países se começa a votar para eleger deputados para o Parlamento Europeu). O próprio presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, defende essa perspetiva.

Extensão "para quê?"



O negociador da União Europeia para o Brexit, Michel Barnier, avisou que, para avaliarem as condições de uma extensão do Artigo 50º, "os líderes europeus vão precisar de um plano concreto do Reino Unido, para poderem adotar uma decisão informada", considerando que há várias "questões chave" que um tal pedido de extensão terá de responder para poder ser aceite.

"Vai a extensão aumentar as hipóteses de ratificação do acordo? Vai o Reino Unido pedir a extensão porque quer um pouco de mais tempo para trabalhar a declaração política? Se não, qual é o propósito e o resultado de uma extensão? E, como podemos assegurar-nos de que no final de uma eventual extensão, não voltamos à mesma situação, como atualmente", interrogou-se.

Barnier considera que, sem respostas claras, uma extensão pode arrastar a incerteza por mais tempo, por isso, a dez dias da data marcada para o Brexit, deixa o aviso de que "todos devem agora finalizar todos os preparativos para um cenário de não acordo".

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