May e Corbyn trocam farpas sobre a economia antes de debate do Brexit

Os deputados britânicos votam ao final da tarde os próximos passos do Brexit, mas o dia começa com a sessão semanal de perguntas e respostas à primeira-ministra britânica.
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A primeira-ministra britânica e o líder da oposição trocaram acusações em relação à economia na sessão semanal de perguntas e respostas à chefe do governo no Parlamento. Theresa May falou das conquistas do seu governo, com o desemprego a cair e previsões de crescimento maiores do que na Alemanha. Jeremy Corbyn respondeu a falar de uma hipótese em quatro de recessão no Reino Unido, questionando se a culpa é do "plano caótico" do Brexit ou a falta de estratégia industrial do governo.

May reiterou que existe um crescimento económico "consistente", lembrando que o "pior" para a economia britânica seria "um governo trabalhista". Da sua parte, refere, está a garantir "uma economia apta para o futuro".

Corbyn respondeu que a única coisa que está a subir é o rendimento dos mais ricos, enquanto o dos mais pobres está a cair. E questionou "é o aumento da pobreza um preço que vale a pena pagar?".

A primeira-ministra lembrou que os mais ricos (1%) estão a pagar 28% dos impostos, indicando que esse valor é o mais elevado do que sob qualquer governo Labour, alegando também que a desigualdade está a um nível mais baixo do que se houvesse um governo trabalhista.

Em relação aos benefícios sociais, May defendeu que este deve ser justo para aqueles que beneficiam, como também para quem paga impostos. E disse que a pobreza infantil está num dos valores mais baixos de sempre.

Corbyn lembrou que há famílias que têm dois ou três empregos só para conseguir alimentar as famílias. E reiterou que, ao contrário do que May diz, a pobreza infantil está a subir, a pobreza entre os reformados está a subir, o número de sem-abrigo está a subir, a indústria está em recessão e "a austeridade claramente não acabou". Cada vez que dizia "up" (subir), havia um coro de deputados trabalhistas a repetir a palavra.

A primeira-ministra respondeu que a indústria não está em recessão e que o Corbyn está errado em relação aos que ganham menos, alegando que estes tiveram os maiores aumentos em 20 anos. Referiu ainda que as taxas sobre os rendimentos foram cortadas, lembrando que o Labour votou contra isso. "São as classes trabalhadoras que pagam sempre o preço do Labour", afirmou.

A "farsa" do Brexit

Em relação ao Brexit, um deputado trabalhista perguntou a May quando é que vai acabar a "farsa" e convocar um segundo referendo. A primeira-ministra repetiu as promessas da véspera, lembrando ter respondido a 82 perguntas sobre o Brexit, mas reiterando que acredita que a melhor forma de responder ao referendo do Brexit de 2016 é sair com um acordo.

A deputada trabalhista Helen Hayes questionou que garantias pode a primeira-ministra dar, a não ser a sua palavra, que os deputados terão direito a votar para evitar uma saída do Reino Unido da União Europeia sem acordo. Isto depois de ter feito no passado algumas promessas que não cumpriu. May defendeu que a solução que procura é a de um Brexit acordado com Bruxelas e que estão a decorrer "discussões construtivas" nesse sentido.

O líder do Partido Nacionalista Escocês (SNP; na sigla em inglês) no Parlamento britânico, Ian Blackford, pediu para May rejeitar "aqui e agora" um Brexit sem acordo, pedindo ao governo que apoie a emenda que apresentou nesse sentido. Caso contrário estará a "trair o povo da Escócia". May respondeu a dizer que a emenda "não lida com o tema" e que quem traiu o povo escocês foi o SNP que aumentou os impostos.

"O governo não quer estender o artigo 50, o governo quer renegociar o acordo para o apresentar ao Parlamento", afirmou também a primeira-ministra durante o debate. Questionada sobre uma saída sem acordo, May lembra que disse no passado que "sair sem acordo era melhor do que um mau acordo". Mas, referiu, está agora convencida de ter conseguido "um bom acordo" com a União Europeia.

Lembrando que os media tiveram acesso quase palavra por palavra às discussões na reunião do Conselho de Ministros de terça-feira, o deputado Peter Bone (conservador) perguntou se não seria mais fácil transmitir as reuniões na televisão, diante dos risos dos presentes. May diz que Bone quer ser promovido para o governo e que talvez esteja interessado em estar na televisão o tempo todo.

May começou a sessão de perguntas e respostas dizendo-se preocupada com a situação entre o Paquistão e a Índia, pedindo a ambas as partes que travem a escalada da violência. Corbyn disse também apoiar o "rápido diálogo" entre os dois países.

13 emendas

O presidente do Parlamento britânico, John Bercow, terá que escolher quais das 13 emendas à declaração de May que foram apresentadas serão as discutidas. Entre os textos há os que pedem o adiamento da saída do Reino Unido da União Europeia ou a revogação total do artigo 50 do Tratado de Lisboa (e o fim do processo), os que propõem um plano de Brexit alternativo (o do Labour), os que defendem a introdução de legislação para permitir um segundo referendo, ou os que defendem que a parte sobre os direitos dos cidadãos no Acordo de Saída deve ser aplicada mesmo em caso de um Brexit sem acordo.

Uma das emendas, precisamente sobre os direitos dos cidadãos, foi apresentada pelo deputado Alberto Costa, que foi entretanto demitido de um cargo no governo (era secretário parlamentar do ministro para a Escócia). Isto depois de o ministro do Interior, Sajid Javid, ter dito numa comissão parlamentar que não havia "nada de errado" com a emenda e que o governo a iria apoiar.

A emenda pede a May que tenha uma reunião urgente com a União Europeia para garantir os direitos dos cidadãos britânicos na UE e dos cidadãos da UE no Reino Unido, independentemente do resultado das negociações. "Parece ridículo que o governo demita um secretário parlamentar sobre uma emenda que tem o apoio de vários partidos e de mais de 60 deputados conservadores e de Sajid Javid", disse uma fonte ao The Guardian.

Antes do debate, a primeira-ministra teve uma pequena vitória, quando o deputado Jacob Rees-Mogg, líder da fação mais conservadora dos Tories, admitiu que está a diminuir a sua hostilidade em relação ao backstop (o mecanismo de salvaguarda) para evitar uma fronteira física entre Irlanda do Norte e República da Irlanda. "Se existir uma data clara que diz que o backstop acaba (...) e uma data curta, não longa (...) isso teria um efeito razoável no meu ponto de vista", disse á BBC. Até agora dizia: "Enquanto o backstop existir, não vou votar no acordo [de May]".

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