May dramatiza: se acordo for chumbado pode nem haver Brexit
No início de uma semana decisiva para o Brexit e para o governo britânico, a primeira-ministra do Reino Unido dramatiza o discurso e avisa que, se a sua proposta for chumbada pelos deputadas da Câmara dos Comuns, será mais provável o país continuar na União Europeia do que haver uma saída sem acordo.
Na véspera da importante votação no parlamento sobre o acordo para a saída do Reino Unido da UE, e com uma muito provável derrota no horizonte, Theresa May vai visitar Stoke-on-Trent, uma zona fortemente pro-Brexit, e aí deixará um aviso aos deputados: o parlamento britânico tem o dever de respeitar o resultado do referendo de 2016 ou a confiança dos cidadãos nos políticos sofrerá um "golpe catastrófico".
"O que eu peço aos deputados é que tenham em conta as consequências dos seus atos em nome da confiança dos cidadãos britânicos na nossa democracia", disseTheresa May esta segunda-feira aos trabalhadores de uma fábrica de Stoke-on-Trent, um discurso já antecipado esta manhã pela BBC. "Imaginem que uma Câmara dos Comuns anti-devolução [figura que prevê a passagem de poderes do parlamento britânico para os nacionais] dizia às pessoas da Escócia ou do País de Gales que, apesar de terem votado a favor da devolução de poderes legislativos, o parlamento é que sabe o que deve fazer e passa por cima das suas decisões. Ou então obriga-as a votar novamente. A confiança das pessoas no processo democrático e nos seus políticos sofreria um golpe catastrófico. Todos temos a obrigação de implementar o resultado do referendo".
A ideia chave de May é que se os deputados chumbarem o acordo alcançado com os parceiros europeus há quase dois meses, mais do que arriscar uma saída unilateral - que pode, por exemplo, ter implicações na circulação de pessoas e nas relações comerciais, com a subida dos preços de produtos no mercado britânico -, o Reino Unido poderá mesmo continuar na UE. A primeira-ministra britânica deve mesmo responsabilizar os deputados anti-Brexitpor uma eventual derrota na votação de amanhã, já que "há algumas pessoas em Westminster que preferem adiar ou até mesmo travar o Brexit e vão usar todos os mecanismo para que isso aconteça".
A questão é que a oposição ao acordo de saída do Reino Unido está longe de se resumir aos que já se manifestavam contra o Brexit e já chegou mesmo ao seio dos conservadores. Apesar de alguns terem mudado a sua posição nos últimos dias, cerca de 100 deputados do Partido Conservador (quase um terço da bancada Tory) a que se juntam os dez do Partido Unionista Democrático (partido da Irlanda do Norte, que representa o maior desafio para May, devido ao backstop, mecanismo de salvaguarda destinado a evitar o regresso de uma fronteira física entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda) devem juntar-se aos trabalhistas e restante oposição para votar contra a proposta do governo. Executivo que terá então três dias para preparar uma alternativa, como os Comuns decidiram na semana passada.
A saída do Reino Unido, que a 23 de junho de 2016 votou pelo Brexit, está prevista para 29 de março, dois anos depois de o governo de Theresa May ter acionado o Artigo 50.º do Tratado de Lisboa. A retirada do Reino Unido da UE será regulada pelo acordo do Brexit, que prevê um período transitório até 2020, mas se este for rejeitado colocam-se vários cenários, incluindo uma moção de censura contra o governo conservador e eleições antecipadas, um pedido de extensão do Artigo 50.º do Tratado de Lisboa (algo que poderia ter implicações a nível das eleições para o Parlamento Europeu em maio), e até, no limite, haver uma retirada da ativação do Artigo 50.º.
Notícia atualizada às 11.45 confirmando o discurso de Theresa May