Mau ambiente
Vivemos tempos estranhos. Muito estranhos. Ao observar o dia-a-dia da sociedade, algo que qualquer jornalista tem obrigação de fazer, nota-se uma crispação, ainda que ligeira, mas que não existia antes, nem nos tempos da crise económica.
Na estrada, por exemplo, há cada vez mais condutores a levantar o braço em protesto uns com os outros - e só não o fazem com mais frequência porque, na maioria das vezes, é o mesmo braço que segura um smartphone. Recentemente assisti a uma cena típica de "agarrem-me que vou-me a ele". Só que mais grave, muito mais grave. Um homem vociferava insultos e ameaçava fisicamente uma senhora. Qualquer que fosse a razão do homem, perdeu-a logo ali. Ameaçar uma mulher fisicamente é do mais cobarde que existe. A senhora acelerou o carro e a coisa ficou por ali, felizmente.
Umas semanas antes ia tendo um acidente dentro de um táxi. Um condutor passou milimetricamente pelo carro preto e verde propositadamente, a vingar-se de uma ultrapassagem anterior, feita dentro das leis de trânsito. Não fosse a experiência do taxista e tinha sido o bom e bonito.
Mas não é só na estrada. Nos elevadores, por exemplo, já nem se espera que outros saiam para se entrar. Os empurrões são cada vez mais frequentes. Andamos todos chateados uns com os outros. Apesar do sol, da praia, do vinho, os portugueses, mais concretamente os de Lisboa, estão a ficar impregnados de mau ambiente.
"Há atrasado" escrevi um texto sobre Greta Thunberg, num blogue que partilho com amigos, no qual defendi que todos nós devíamos ter Greta Thunberg na voz. Que aquela miúda sueca com o seu tom acusatório me fez pensar e sentir mal. Que quão ridículo é puxar o autoclismo com água potável ou conduzir um automóvel a diesel todos os dias. Aquela voz jovem, mas poderosa, que afirmou "how dare you" fez-me sentir culpado, e bem. Claro, recebi uma série de comentários acusatórios sobre a defesa da jovem sueca como se defendesse uma figura hedionda. O que se passa connosco? De onde vem tanto ódio. E, pior, para onde vai?