Matriarcas: Quem manda são elas
Com apenas 38 anos e quatro filhos, a sua avó Germana ficou viúva e teve de tratar sozinha da família e da casa agrícola. Já antes, a sua bisavó Deonilde tinha ficado a comandar os negócios depois da morte precoce do marido, tendo sido ela quem, em 1920, criou a empresa de produção de vinho. «As mulheres tiveram sempre um papel importante na minha família, até porque a linha masculina morreu sempre cedo», diz Leonor Freitas (na fotografia), de 63 anos, que agora tem tudo nas suas mãos. É ela a matriarca.
Lidera um império vitivinícola centrado na Casa Ermelinda Freitas, em Fernando Pó, e à sua volta agrega a descendência. O marido, reformado da Portucel, dá uma ajuda na empresa, onde trabalham já os dois filhos. João, o mais velho, 37 anos, trata da parte informática. Joana, 31, está na gestão do mercado exterior.
«Na quinta geração já se está a ver que será de novo uma mulher a comandar», calcula Leonor, que começou a dirigir as vinhas depois de o pai morrer em 1991. «Foi o homem que mais tempo liderou o negócio familiar, mas também morreu cedo e para ajudar a minha mãe regressei. Vim por amor», recorda Leonor, que vivia longe da localidade rural há vários anos.
Fora ali, em Fernando Pó, rodeada de vinhas e em plena noite de véspera de Natal, que nasceu num quarto da casa de família, em 1952. «Passei naquele lugarejo a minha infância até aos 10 anos», conta. Depois foi para um colégio em Setúbal, e estabeleceu-se na cidade: casou em 1975, um ano depois concluiu a sua licenciatura em Serviço Social e em 1979 teve o primeiro filho.
Quando regressou, após a morte do pai, trabalhava como técnica superior do serviço social da Administração Regional de Saúde (ARS) em Setúbal. Durante alguns anos ainda manteve os dois empregos e todos os dias percorria 50 quilómetros para ir e vir «De manhã trabalhava na Casa Ermelinda, depois ia para a ARS em Setúbal e ao final da tarde voltava.» Foi durante esse período que, pela primeira vez, em 1997, venderam o tinto Terra do Pó já engarrafado. Até então, o vinho era apenas comercializado a granel.
Em 2004, Leonor deixou definitivamente o Ministério da Saúde e passou a dedicar-se em exclusivo à Casa Ermelinda: arranjou um enólogo para a empresa, Jaime Quendera, modernizou a adega, aumentou os 64 hectares de vinha que herdou quando ali chegou para 440 e passou de apenas duas castas (Castelão e Fernando Pires) para 29.
Ao longo dos anos tem recebido vários prémios, sendo a criadora dos melhores vinhos da região e do mundo, como o Syrah que em 2008 foi considerado o mais saboroso tinto do planeta. Ao todo, a empresa acumula já 600 distinções.
Sabe que tem uma imagem forte na família e que é uma mulher de regras, mas também afetiva. Para o seu sucesso e as medalhas que recebeu (como a comenda da Ordem do Mérito Agrícola, Comercial e Industrial, atribuída por Cavaco Silva, em 2009) garante, foi determinante o apoio do marido e a herança deixada pelas matriarcas anteriores, como a sua avô Germana. Esta ainda colocou a adega sob controlo do filho Manuel João (marido de Ermelinda e pai de Leonor), mas tal como sucedeu com o pai, teve uma morte prematura e o negócio regressou de novo a mãos femininas.
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