Matheus, a última surpresa que saiu furada a Jorge Jesus
A surpresa instalou-se assim que foi anunciado o onze que Jorge Jesus escalonou para o clássico de sábado diante do FC Porto. Matheus Pereira, apenas um minuto jogado no campeonato em 2016-17, foi lançado às feras num jogo decisivo para as contas do título. "É uma enorme responsabilidade", classifica Manuel José, treinador experimentado nestas andanças. Aparentemente, a ideia não deu resultado: o extremo, que até tinha sido aposta mais regular de Jesus na temporada passada, acabou substituído ao intervalo, quando os leões já perdiam por dois golos.
A ideia de apresentar elementos-surpresa em desafios importantes não é propriamente uma novidade, muito menos para Jorge Jesus, protagonista de várias adaptações surpreendentes. Ainda nesta época, em Varsóvia, apresentou um esquema de três centrais no jogo da Liga dos Campeões com o Legia, que acabou por ditar o afastamento leonino das provas europeias.
Mas o que leva um treinador a apostar num jogador quase nunca utilizado para um jogo importante? "Pode ser por uma questão de recurso ou então pela surpresa, mas no futebol o fator-surpresa só dura no primeiro quarto de hora. São opções arriscadas", atira Henrique Calisto.
"Mas tudo depende do carácter do jogador e da sua preparação psicológica", considera o professor. Manuel José concorda. "Um jogador nessa posição pode sentir que não vai jogar porque o treinador tem confiança nele, pode sentir que está a ser examinado. Com que moral vai entrar em campo?", questiona, antes de responder ele próprio à questão: "Em 90% dos casos dá mau resultado."
Calisto prefere não classificar a aposta em Matheus como uma invenção. "Invenção é colocar um jogador numa posição que não é a sua. Como comentador, foi uma surpresa. Como treinador, entendo que existam outros motivos que o público desconhece, pois não está nos treinos", atira.
Manuel José, por seu turno, aponta ao "ego" do treinador do Sporting. "O Jesus acha que consegue fazer um jogador de um cabo de vassoura. Quer mostrar que tem sempre razão, mas nem sempre as suas apostas estão corretas", frisa. "Ele gosta de jogar sempre no risco e eu identifico-me com essa postura. É uma das razões pelas quais gosto dele. Mas quando assume esse risco também tem de assumir a responsabilidade se as coisas correm mal. Atirar as culpas para o Palhinha e para o Casillas já não me parece bem", vinca.
Nem um nem outro consideram que exista uma "tendência" para estas apostas de risco. "Na generalidade, não se faz. A estabilidade é muito importante", argumenta Calisto. "Fazer invenções pode ser catastrófico, é o que a história nos diz", resume. Manuel José aproveita a deixa. "Mais valia ter jogado o Podence, que tem ritmo de I Liga e está moralizado. Quando se quer ser campeão não se devem fazer apostas daquelas", conclui.