Há sempre uma mas, que não é só música.
Em todos os atos eleitorais e nos respetivos rescaldos, os discursos procuram sempre enaltecer o sucesso - mesmo o mais discreto ou rebuscado - e suavizar as perdas e os maus resultados, por mais evidentes que se apresentem.
A norma padrão da retórica está, pelos vistos, cada vez mais homologada e normalizada pelos partidos políticos, mesmo os mais recentes e até para os que se estrearam no sufrágio das autárquicas, que nisso não fazem diferente dos partidos tradicionais, recorrendo todos à mesma tese: primeiro a evidência e logo a seguir a ideia alternativa, muitas vezes construída. Uns ganharam e outros perderam, mas...
Do lado do poder, o PS confirma o grau e a dimensão da sua implantação autárquica, permanecendo como partido liderante, com mais votos e mais mandatos. Perdeu Municípios e Freguesias, mas continua a ter mais Presidentes de Câmara e de Juntas de Freguesia. Quantitativamente, estas eleições correram melhor ao Partido Socialista, mas qualitativamente obrigaram a encarar perdas, como Lisboa ou Coimbra, embora com a capital a surpreender os socialistas e os eleitores em geral, sobretudo a partir do momento em que as sondagens à boca das urnas iam mostrando um empate técnico entre Medina e Moedas.
Apesar de tudo, a nível nacional o PS segue à frente e cumpre os desígnios do Secretário-Geral António Costa: maior número de Câmaras e de Juntas de Freguesia e a garantia, por consequência, da liderança da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e da Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE), conservando todas as condições para o efeito.
A direita tradicional, independentemente dos resultados próprios, tem um "mas" à partida: O Chega de André Ventura falhou o propósito de alcançar o terceiro lugar nestas eleições. Fica o bónus, ainda que isso alivie sem servir de bandeira.
O PSD e o CDS têm resultados diferentes, à exceção dos concelhos onde concorreram coligados, porque aí partilham inevitavelmente o número de votos por irem de mãos dadas, mas para os sociais democratas e para os centristas o day after foi muito semelhante. Lisboa e mais alguns concelhos permitiram a Rui Rio e a Francisco Rodrigues dos Santos adiar investidas internas contrárias às suas lideranças. Mesmo que num e noutro casos não haja espaço para uma sentença política imediata, a massa crítica cresce e consolida-se, evoluindo no tempo e ao ritmo necessários para a construção da velha argumentação numa nova narrativa.
Há, desde a última noite eleitoral, uma nova correlação de forças nas autarquias, mas há, desde sempre, um Orçamento de Estado para negociar, que para os partidos à esquerda do PS só depende do cumprimento e da execução do atual orçamento e do comprometimento e abertura do Partido Socialista em relação às medidas futuras.
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