Martim Moniz: uma tarde para tirar dúvidas aos moradores

Empresa responsável pelo projeto que está a ser contestado pela oposição e moradores decidiu fazer uma reunião pública para explicar o que pretende fazer nos três mil metros quadrados de concessão.
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Contrariar as "notícias que não espelham o nosso projeto" mostrando à população o que está a ser pensado para o Martim Moniz e responder a todas as dúvidas sobre a requalificação da praça. Este foi o objetivo da iniciativa que durante a tarde deste sábado teve como palco aquela zona de Lisboa cuja renovação tem sido alvo de contestação tanto por parte dos partidos da oposição camarária como pela população, que no passado dia 2 protagonizou um cordão humano no local como forma de protesto pela proposta da empresa Moonbrigade para a renovação do espaço.

A ideia de fazer uma "reunião pública" foi explicada ao DN por José Filipe como uma forma de mostrar o que a concessionária pretende fazer. "O nosso trabalho é pegar numa zona especifica da cidade, que com o mercado de fusão já tínhamos conseguido mudar, abandonada há 20 anos e reabilitá-la. Temos um projeto de integração social, mantendo o compromisso de manter projetos com as comunidades", acrescenta o responsável da empresa que pretende investir três milhões de euros na requalificação da área.

A Moonbrigade pretende transformar a zona numa "praça dos povos", por isso diz já ter acordos com vários comerciantes que estão no Bairro da Mouraria para fazerem parte de um projeto que "ocupará 27% do espaço da praça [3259 m2]". Para o restante espaço está previsto um jardim e existe a disponibilidade da empresa para construir um "jardim infantil". Iniciativa que depende da autarquia e da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, existindo já uma ideia do que poderá ser: "Faz sentido, é um projeto para toda a gente, com um mapa-mundo com jogos interativos."

O projeto que a concessionária - responsável pelo espaço até 2032 - apresentou para a praça envolve zonas verdes, o espaço completamente aberto (ficou sem efeito a ideia, muito contestada, de colocar uma vedação para evitar a passagem de pessoas na praça durante a noite), tudo inserido num plano sustentável. "Vamos ter uma redução drástica do uso do plástico. Na zona de restauração todos os materiais vão ser biodegradáveis e os lojistas não vão usar plásticos", adianta José Filipe.

Com algumas parcerias já acertadas, incluindo com o coletivo Underdogs que vai gerir uma galeria de arte que mudará de tema de três em três meses, uma peça do Bordalo II e um mural do artista brasileiro Kobra que estará focado na união dos povos, José Ribeiro garante que a iniciativa desta tarde serviu para "desmistificar algumas ideias. A população está connosco, temos uma forte ligação ao bairro".

Esta decisão surge num contexto em que existe muita contestação ao projeto de utilizar contentores como "lojas" e nem mesmo a promessa da concessionária de que serão revestidos a madeira ou vidro convence a população que no dia 2 fez um cordão humano em volta da praça e que tinha como uma das frases de ordem "não queremos contentores".

Também os partidos da oposição ao executivo liderado por Fernando Medina (PS) têm apresentado dúvidas sobre o projeto e a assembleia municipal de Lisboa aprovou no dia 5 uma proposta para que o projeto seja colocado em discussão pública, tendo o presidente da autarquia dito que estava disponível para que isso acontecesse.

A esta contestação junta-se agora uma proposta entregue no âmbito do orçamento participativo da autoria do arquiteto Tiago Mota Saraiva que pretende suspender o projeto - que recebeu a primeira autorização para a construção de infraestruturas, já a ser feitas pela Moonbrigade - e que se inicie "um processo de participação pública que dê origem a um programa preliminar" para intervenção nesta praça de Lisboa, "no qual se identificará o que se quer para a praça, e que será a base de um concurso público aberto de conceção".

Perante tudo isto o objetivo inicial de ter as obras concluídas em junho deste ano pode estar comprometido. "Continuar com o resto do projeto depende da câmara. Mas esta praça voltou a ser uma praça suja, o tráfico de droga voltou e a criminalidade também", sublinha.

O projeto prevê que na zona central da praça surjam 50 espaços comerciais como florista, cabeleireiro, talho, padaria, restaurantes de comida do mundo que já estavam na praça, uma chapelaria e uma loja de discos. Também as associações locais terão espaços próprios.

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