Marsans deu ordens para receber sem dar 'voucher'

Os cerca de 40 balcões da agência em Portugal fecharam. Clientes ficaram sem embarcar e alguns vão recorrer aos tribunais.
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O risco de falência da agência de viagens Marsans - com sede em Espanha mas com 40 balcões em Portugal - já se arrastava há algum tempo, mas os funcionários receberam ordens, nos últimos dias, para receber o máximo de dinheiro possível dos clientes e não lhes entregar os vouchers das viagens. Este fim-de-semana, todos os balcões fecharam e milhares de portugueses ficaram lesados.

Muitos dos clientes que não puderam viajar vão formalizar queixa esta manhã. É o caso de Manuel Almeida, que, ontem às 10.00, deveria ter partido do aeroporto da Portela, em Lisboa, em direcção a Creta, na Grécia, mas que ficou em terra e sem os quatro mil euros que pagou na agência da Marsans, no centro comercial Parque Nascente, em Rio Tinto, Gondomar. O primeiro pagamento da viagem com a mulher e os três filhos foi feito fez ontem oito dias.

O segundo pagamento realizou-se na quinta-feira à noite, sendo que "os funcionários já nessa altura sabiam o que iria acontecer", disse Manuel Almeida ao DN.

O cliente estranhou quando pediu à funcionária da agência a factura da compra e apenas obteve a resposta de que era impossível porque a loja estava a ter dificuldades com o sistema informático, pedindo para este ali passar na manhã do dia seguinte. Nesse dia, o balcão estava já fechado. A Auchan, cadeia que em Portugal detém as lojas Jumbo e Pão de Açúcar, e a que a Marsans arrenda as 12 lojas instaladas nestas grandes superfícies, não deu nenhuma resposta.

Funcionários das lojas que não querem identificar-se dizem, no entanto, que o fecho dos balcões estava já previsto e que a ordem recebida na última semana era a de receber o máximo de dinheiro possível sem entregar qualquer voucher. "Ainda tentei recorrer ao Clube Viajar, que era um dos operadores para os quais a Marsans trabalhava, que trataria da minha viagem, mas eles, independentemente da reserva estar feita e de haver seguro e tudo, não podiam fazer nada porque não tinham recebido um tostão da Marsans", refere Manuel Almeida, que esta manhã vai apresentar queixa do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Porto por burla.

Nos últimos dois dias foram vários os lesados que se concentraram nas lojas da Marsans, nomeadamente em Guimarães, no Porto e em Lisboa. Ontem, no Parque Nascente, muitos protestaram para exigir o dinheiro que tinham pago, mas nenhum responsável compareceu no local para prestar declarações. Apenas Ricardo Fonseca, director financeiro do grupo Auchan, apareceu para esclarecer que a relação da sua cadeia com a agência de viagens é apenas a de cedência de espaço de loja. Dos 40 balcões que a Marsans tem em Portugal 12 localizam-se junto aos hipermercados Jumbo.

Contactado pelo DN, João Passos, da Associação Portuguesa de Agências de Viagem e Turismo (APAVT), tentou chegar à fala com os responsáveis pela empresa em Portugal e em Espanha. "Até agora não obtive resposta", diz. Porém, há cerca de 15 dias, conseguiu contactar o representante da empresa em Portugal, que lhe garantiu que "em Portugal não havia motivos para ficarem preocupados porque a situação estava controlada".

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