Marlene Vieira: "A guerra tem a ver com poder dos homens, do sexo masculino, não a associo às mulheres"
Um país...
Portugal. Portugal é o meu país e sinto-me verdadeiramente portuguesa. Não posso negar que tenho curiosidade de como as pessoas vivem na Austrália ou na Dinamarca. Na Dinamarca já estive, na Austrália infelizmente não. Na cultura gastronómica daquelas regiões e, principalmente, da Austrália, há muita influência asiática de que gosto. Mas Portugal aceito com tudo aquilo que traz de defeitos e virtudes. Gastronomicamente temos muito que fazer e muito para trabalhar, portanto, estou muito bem aqui no nosso país.
Momentos de crise?
Foi a covid-19, foi uma crise do caneco. Foi onde me senti como se estivesse sem saber nada, mas acredito que tenha sido parecido com um tsunami, em que ficámos completamente perdidos ou em alto mar sem saber muito bem onde é o Norte, o Sul, o Este e o Oeste. Na covid-19, com dois projetos que iriam iniciar, fiquei à deriva, sem ver a luz ao fundo do túnel. Aos poucos fomos vendo ali um pequeno farol que nos encaminhou para onde estamos hoje.
Guerra?
A guerra, para mim, tem a ver com poder. O poder dos homens, do sexo masculino, isto é, não associo as mulheres à guerra, mas associo muito os homens a serem provocadores de guerra. E isto leva-me para outras coisas em que não gosto de pensar, a guerra é uma coisa muito infeliz, muito triste, uma perda de tempo.
O turismo é...
Bom. É bom porque nos obriga a crescer, a evoluir, a fazer escolhas, o que queremos e o que não queremos. Sem turismo seria uma tristeza, sem partilhar com outras culturas. Gosto muito do turismo.
Uma boa tasca?
É a da Susana Felicidade, que existia e que, se calhar, era uma taberna. Foi, se calhar, das primeiras tabernas em Lisboa durante a crise que tivemos antes desta que estamos a viver. Ela tem um restaurante chamado Farmácia, que não é bem uma tasca, mas recriou esta taberna que tinha em Lisboa no Algarve, que agora se chama Cal, ali na zona costeira da Arrifana.
Um sabor.
Gosto do salgado: o sal, se calhar, é o meu sabor favorito. Não demasiado. O sal é o caviar dos pobres, mas esta não é uma frase dita por mim, embora também não saiba dizer quem é que disse... A comida sem sal não tem sentido para mim.
Cozinhar é...
Cozinhar é amor, muito amor. Cozinhar é dar tudo aquilo que temos, dar o melhor que temos aos outros. É uma vida dedicada aos outros.
E a música?
A música é inspiração, é emoção, gosto muito de música. Tenho muita pena de não saber cantar, é uma das coisas mais tristes da minha vida, não saber cantar. A minha filha diz: "Mãe, sei que gostas de cantar, mas esse não é o teu talento". A música inspira-me muito, é a minha companheira de solidão... não é bem solidão, porque solidão é uma coisa feia, má. Quando estou sozinha - e gosto de estar sozinha -, aprecio música como minha companhia.
Família.
A família é o corpo, é o nosso corpo, é a nossa carne. É algo que é mais forte do que a nossa cabeça, do que a nossa razão, é um elo muito forte, para mim pelo menos. Consigo deixar tudo em prol da família
Estrela é sinónimo de quê?
Tenho algumas no céu, mas gostava de ter aqui uma estrela bem perto. Muito pela equipa, porque a estrela Michelin é uma estrela que queremos muito conquistar, porque é um desafio a que nos propomos e gostamos de desafios. E a estrela é só mais um desafio, não é o maior, porque há outros desafios muito maiores do que a estrela. Ainda assim, claro que a estrela é aquela coisa que nos vai dar felicidade um dia, vai dar-nos comemoração. E depois vamos voltar à nossa realidade e viver aquilo que realmente nos faz felizes, que é trabalhar para os nossos clientes e para nós mesmos, porque gostamos é de estar todos juntos.