Marketing
É possível que a ideia não seja original, mas nem por isso deixa de ser sintomática nos tempos que correm. Os próximos candidatos a primeiro-ministro, supostamente responsáveis máximos pelas suas equipas governativas, não assumem directamente a coordenação dos respectivos programas. José Sócrates delegou essa competência em António Vitorino e Santana Lopes em António Mexia. Percebe-se a intenção capitalizar o prestígio político e técnico de duas figuras «marginais» às máquinas partidárias e utilizá-lo como trunfo de marketing eleitoral. Só que essa intenção proporciona, inevitavelmente, interpretações malévolas. E a suspeita de que nem Sócrates nem Santana se consideram cotados com a credibilidade suficiente para exercerem o cargo que vão disputar. Limitam-se a representar papéis a partir de um guião concebido por outros. São apenas cabeças de cartaz.
Sabe-se que Sócrates só se candidatou a líder do PS porque Vitorino não quis ser D. Constança. E que Santana herdou a liderança do PSD em circunstâncias de legitimidade política duvidosa. Assim, Sócrates não prescinde da brilhante imagem de marca que Vitorino deixou na Europa (como já não prescindira de Sérgio Sousa Pinto para escrever a sua moção ao último congresso socialista). E Santana precisa do fulgor tecnocrático e yuppie de um outsider como Mexia, enquanto certificado de garantia que compense o seu percurso errático. Em qualquer dos casos, são confissões de fragilidade de quem receia apresentar-se com a sua própria cara perante o eleitorado e não dispensa a bênção de padrinhos reconhecidamente mais credíveis. Além do mais, isso favorece um sentimento de nostalgia em relação ao retrato ideal do próximo primeiro-ministro. Ah, se tivéssemos de escolher entre Vitorino e Mexia e não entre as cabeças de cartaz que se escondem atrás deles!