Mark McMorris, o sobrevivente: do coma ao bronze olímpico
Partiu 17 ossos, viu baço e pulmão colapsarem, passou por múltiplas cirurgias e temeu nunca mais voltar a fazer piruetas numa prancha de snowboard. Menos de um ano depois, Mark McMorris provou ser um sobrevivente: passou do coma induzido ao pódio dos Jogos Olímpicos de inverno, conquistando a medalha de bronze de slopestyle.
O snowboarder canadiano, de 24 anos, foi um dos heróis da jornada de ontem em PyeongChang 2018, mesmo que o ouro de slopestyle tenha sido arrebatado, na última ronda, por um fenómeno adolescente: Redmond Gerard. O estado-unidense, com 17 anos e 222 dias, tornou-se o primeiro campeão olímpico nascido no século XXI (sendo batido, em termos de precocidade, pelo finlandês Toni Nieminen, vencedor de saltos de esqui em grande trampolim, com 16 anos e 261 dias, em 1992).
No entanto, mais do que a inesperada façanha de Gerard (que seguia no último lugar da final, após as duas primeiras passagens, mas acabou por vencer com 87,16 pontos), o que surpreendeu meio mundo foi a história bigger than life de Mark McMorris. O canadiano correu perigo de vida, depois de se despenhar contra três árvores, num acidente num treino, em março de 2017. Depois, passou meio ano em recuperação e quase ninguém acreditava que pudesse revalidar a medalha de bronze conquistada em Sochi 2014. No entanto, fê-lo com distinção, terminando com 85,20 pontos (liderava no final da segunda ronda), a 0,80 de distância da prata - levada pelo compatriota Max Parrot.
"Foi uma jornada longa e difícil. Nos últimos dois anos, praticamente não treinei: antes de me partir todo, já tinha fraturado o fémur... Por isso, mais do que pela medalha, celebro por estar vivo e ainda poder desfrutar deste desporto", afirmou, no final, Mark McMorris, reconhecendo que julgou que "nunca conseguiria voltar ao mesmo nível". "Sou um sortudo por estar aqui, animado e a competir", sublinhou o snowboarder, antigo vice-campeão mundial de slopestyle e 16 vezes medalhado nos X Games.
Além de slopestyle, ontem foram atribuídos mais cinco títulos - com a final da descida masculina, em esqui alpino, a ser adiada para amanhã, devido às condições climatéricas. Nos 15+15 km de skiathlon (cross-country), escreveu-se mais uma história de superação: o norueguês Simen Hegstad Krüger chegou ao ouro após ter caído na primeira volta. Prata e bronze ficaram para Martin Johnsrud Sundby e Hans Christer Holund, num pódio 100% da Noruega (o 13.º do país, em Jogos Olímpicos de Inverno).
Falando de hegemonia, o holandês Sven Kramer prolongou a sua nos 5000 metros da patinagem de velocidade: tornou-se o primeiro a sagrar-se tricampeão olímpico e somar oito medalhas na modalidade. Menos sorte tiveram os favoritos de luge individual (Felix Loch) e 10 km sprint, de biatlo (Johannes Bø e Martin Fourcade), derrotados com estrondo. No luge, venceu o austríaco David Gleirscher, desconhecido que nunca ganhara sequer uma etapa da Taça do Mundo. No biatlo, o ouro foi para o alemão Arnd Peiffer, trintão que celebrou o maior feito da carreira. E, por fim, em moguls (esqui estilo livre), sorriu a francesa Perrine Laffonte.