Mário Soares eleito personalidade do ano
"Em 2013 Mário Soares tem sido uma das principais vozes na sociedade portuguesa", realçam os jornalistas estrangeiros a trabalhar em Portugal, que quiseram, com este prémio, "constatar o importante papel desempenhado por Mário Soares na Democracia e na história de Portugal".
"Por um lado, serve para reconhecer a sua longa e intensa trajetória política, por outro, pretende galardoar a enérgica atividade realizada ao longo do presente ano", justificam os membros da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal, da qual o antigo presidente da República é sócio honorário.
Apesar dos seus 89 anos e de um grave problema de saúde no início do ano, Mário Soares mantém-se ativo e com forte intervenção política. Precisamente no dia do último aniversário, a 7 de dezembro, o antigo presidente marcou presença numa iniciativa em defesa dos Estaleiros de Viana do Castelo. "Estes homens [trabalhadores] estão no seu direito de lutar e devem continuar a lutar. É por isso que eu cá estou, solidário com eles", disse o histórico líder socialista.
Antes disso, a 21 de novembro, Mário Soares organizou o Congresso das Esquerdas, que decorreu na Aula Magna, em Lisboa. Com a presença de inúmeras personalidade, a iniciativa ficou marcada pelas suas declarações que alguns entenderam como um apelo à violência.
Na ocasião, o ex-chefe de Estado Mário Soares defendeu a demissão do Presidente da República e do Governo, dizendo que é tempo de "irem para suas casas pelo seu pé" e evitarem "uma onda de violência".
Ideias que já havia defendido, dois dias antes, no ponto 2 de um artigo do DN. "Quando digo que este Governo está moribundo, que só existe ainda dada a proteção anticonstitucional do Presidente Cavaco Silva, entenda-se que não o faço para o tentar humilhar ou por razões ideológicas ou político-sociais. É tão-só para evitar, enquanto é tempo, a violência que aí vem", escreveu, acusando a maioria de estar a "caminhar para uma espécie de nova ditadura".
Soares acusou Cavaco de pertencer ao "bando" do Governo, mas também questionou o seu envolvimento no caso BPN. "Nunca ninguém julgou, todos roubaram, mas nunca julgou, como é sabido. Porque é que o Presidente da República não é julgado?", perguntou Mário Soares em meados de outubro, quando questionado acerca do fim das relações estratégicas entre Angola e Portugal.
Dias antes, numa entrevista "sem papas na língua" ao DN, dissera: "O Governo quer acabar com o Estado social, com o Serviço Nacional de Saúde, com o respeito pelos sindicatos e a concertação social. Tudo isso tem vindo a desaparecer. Isso tem um objetivo terrível: destruir Portugal tal como foi e a Constituição ordena". Soares defendera ainda que "estes senhores têm de ser julgados, depois de saírem do poder. Mas não é por esta Justiça, que não tem gente. Você sabe que, por exemplo, todos os que roubaram no banco nunca lhes aconteceu nada, estão todos impunes, está tudo a viver à tripa forra?
Mário Soares esteve especialmente ativo no segundo semestre do ano, uma vez que esteve 10 dias em coma devido a uma encefalite, logo no início do ano.
Mas, em pleno verão, numa entrevista ao jornal "i" foi muito duro nas críticas a António José Seguro, considerando que este foi brando no discurso em que anunciou a rutura nas negociações com o governo para um "compromisso de salvação nacional". O líder histórico socialista já alertara o atual dirigente do PS para a possibilidade de cisões no partido caso este chegasse a acordo com a coligação, na sequência do pedido de entendimento de Cavaco Silva, após a crise política de fim de junho, provocada pelo pedido de demissão de Paulo Portas.
Época em relação à qual se referiu como um "caos" e em que realçou, num artigo de opinião no DN, que o "Governo de Passos Coelho, que está há muito moribundo e completamente paralisado, não teve a dignidade de se demitir".
Nesse mesmo artigo, Mário Soares lembrou que não tem nenhuma responsabilidade política e não a quer ter. "Limito-me a pensar e a dizer o que penso", afirmou.
Essa é uma das razões pelas quais recebe agora o prémio da imprensa estrangeira, que em anos anteriores já distinguiu Carlos Paredes, José Saramago, Durão Barroso, Luís Figo, Souto Moura ou Joana Vasconcelos.