Mário Cordeiro escreve livro em homenagem ao avô
A apresentação deste livro da Glaciar, no qual Mário Cordeiro revisita o avô com o qual conviveu até aos seus oito anos - altura em que Júlio Gonçalves morreu -, terá lugar às 18.30 de hoje, na Sociedade de Geografia de Lisboa. Aqui, onde exerceu o cargo de secretário-geral até à morte e foi um dos grandes impulsionadores de diversas secções, do Boletim e de eventos internacionais, o médico e oficial da Armada "verá" o professor Adriano Moreira apresentar o livro que o neto lhe dedica 50 anos após ter falecido. Adriano Moreira sucedeu a Júlio Gonçalves.
Em declarações ao DN, Mário Cordeiro disse que aquele que era para ser inicialmente apenas um pequeno livro "baseado em fotografias", acabou por o levar a escrever mais de 300 páginas sobre a vida do homem que no seu imaginário "era uma pessoa muito completa". O pediatra e também escritor recorda o passado que resultou neste compêndio: "O meu avô sempre me despertou uma grande curiosidade e admiração. Cedo comecei a observar atentamente fotografias dele, enquanto ouvia fascinado a minha avó contar 'estórias' a seu respeito. Quando a minha mãe morreu, em 2003, comecei a descobrir diversos manuscritos do meu avô com uma caligrafia impecável. Foi então que aprofundei uma investigação e estudo que demorou mais de 12 anos e que resultou neste livro".
Segundo Mário Cordeiro, este é um livro não apenas sobre o avô, mas também "sobre a história da Marinha Portuguesa, desde a Índia. E sobre o mar e as impressões de um médico oficial da Marinha que amava o mar e o sentia como a 'sua casa'".
Luís Manuel Júlio Frederico da Cunha Gonçalves, que viria a adoptar posteriormente o nome oficial de Júlio Gonçalves, nasceu em Goa, na Ilha de Divar, a 4 de Julho de 1881 e morreu a 1 de Outubro de 1963, em Lisboa.
Em 1937, dadas as suas qualidades, como médico, oficial da Armada e espírito inovador, combativo e criativo, foi nomeado director do Hospital da Marinha (encerrado agora), tornando-o num hospital capaz de honrar os feridos e doentes que pertenciam à Armada, nomeadamente os que se sacrificavam pela Pátria. Muitos outros cargos exerceu em muitas outras instituições. Inventou também uma maca de transporte de feridos ainda usada recentemente pela NATO. E foi considerado um dos maiores especialistas em orientalismo e história medieval italiana.
No que toca à vida pessoal, Júlio Gonçalves assumiu-se como "irreligioso" e "tímido". Era também um homem apaixonado que casou com Virgínia Luísa Maria Piaccentini Radich, 18 anos mais nova, de ascendência italiana e croata, e que foi o amor de toda a sua vida. "Tiveram uma filha, minha mãe", conta Mário Cordeiro, o escritor.