Maria Gadú. Paulista, tribal e planetária

Mudou de estilos, mas não de identidade. Agora, com o álbum Guelã na bagagem, vem mostrar a sua arte elétrica. E eclética
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Desde o princípio, a vontade de simplificar fez-se sentir na vida pública de Maria Gadú. A referência ultrapassa o domínio musical: quem se chama Mayra Corrêa Aygadoux e opta pelo nome artístico de Maria Gadú está a procurar passos seguros para a acessibilidade. Nas canções, o objetivo parece andar próximo disto. A cantora, nascida em São Paulo a 4 de dezembro de 1986, tornou-se conhecida do meio artístico com uma - excelentíssima - versão de Ne Me Quittes Pas, o hino de Jacques Brel, rapidamente incluída na "trilha sonora" da série da TV Globo dedicada à vida da trágica musa Maysa Matarazzo. Depois, viu-se abraçada pelo grande público por causa de Shimbalaiê, uma canção que escreveu quando tinha dez anos e que, como imagina mesmo quem não conhece, não pode andar próxima da complicação. Até o videoclip que serve o tema, rodado junto ao mar, com futebol e brincadeiras protagonizadas por crianças, cruza singeleza e ingenuidade.

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Tudo isto ressoou no disco de estreia, Maria Gadú, lançado em agosto de 2009, num momento em que a cantora já tinha atraído as atenções dos seus pares e dos frequentadores do circuito de bares do Rio de Janeiro, para onde se mudara no ano anterior. Além das composições próprias, Maria dava indicações claras de um ecletismo que viria a render ótimas consequências - de um lado, a versão de A História de Lilly Braun, clássico de Chico Buarque e Edu Lobo, do notável O Grande Circo Místico; do outro, a de Baba, êxito de Kelly Key, destacada representante do pop juvenil. Gadú transformou-se num amuleto, participando em espetáculos e discos alheios, fazendo brilhar a sua voz grave ao lado de meio mundo. Esse turbilhão permitir--lhe-ia, em 2013, publicar um disco chamado Nós, que faz escala numa série de parcerias muito abrangente: canta com Caetano Veloso, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Ivan Lins, Sandra de Sá, mas também com Ana Carolina, Paulinho Moska e os Jota Quest. Não faltam estrelas internacionais como Eagle-Eye Cherry ou Jesse Harris, não falham sequer os sertanejos Chitãozinho e Chororó.

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Para uma recém-chegada, ou perto disso, seria difícil sonhar mais alto. Mas, em boa verdade, até já tinha sido possível: em 2011, Maria Gadú fizera um espetáculo a meias com Caetano, que passou por Portugal. Ainda hoje, confessa, tem dificuldade em acreditar que esse "encontro" se concretizou e ficou gravado para a posteridade.

Gadú lançou, também em 2011, Mais Uma Página - mais uma vez, faz convergir temas de origens bem diversas: Caetano, Beto Guedes e Ronaldo Bastos, da vertente clássica; Edu Krieger e Luísa Maita, entre os novos valores. Para o seu regresso a Portugal, a cantora que considera Lisboa a cidade mais bonita do mundo, vai apresentar Guelã, terceiro andamento com originais e em estúdio. Trata-se de um disco muito mais elétrico, igualmente eclético, assumindo a confluência das regras MPB e elementos de África, dos trópicos, bem como componentes declaradamente experimentais. Já agora: também se apresenta "económico", uma vez que, no total, pouco ultrapassa os 33 minutos de duração. Ainda assim, descobre para uma parceria autoral com outra Mayra abençoada, a Andrade, nome maior da música de Cabo Verde. O curioso é que este encontro das Mayras acabou por valer a Gadú uma mudança radical e não musical: foi o exemplo da princesa das ilhas que a levou a deixar de fumar, com o objetivo de recuperar a pureza da voz. Valeu a pena.

Concerto de Maria Gadú

Hoje, no CCB, em Lisboa, às 21.00

Bilhetes entre os 25euro e os 50euro

Domingo, na Casa da Música, no Porto

Bilhetes: 30euro

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