Maria de Medeiros é Leonor em filme inédito em Portugal

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É a primeira vez que o filme passa em Portugal. Il Resto di Niente, da realizadora Antonietta de Lillo, será projectado no Instituto Italiano de Cultura no dia 12 de Outubro e é uma adaptação da obra de Enzo Striano sobre Leonor da Fonseca Pimentel, nome quase desconhecido em Portugal mas que a Itália reconhece como heroína na luta pela liberdade e com direito a lugar no Panteão dos Mártires.

Neste filme de 2004, Leonor da Fonseca Pimentel, a mulher que ficou na História por defender os ideais liberais, tem o rosto da actriz portuguesa Maria de Medeiros. Vêmo-la no centro da revolução jacobina de Nápoles, até à sua morte por enforcamento, em 1799.

De origem portuguesa, natural de Roma, ela é uma mulher pequena, mas intelectualmente sólida e de convicções fortes. "Uma verdadeira marciana de setecentos", como lhe chama a realizadora, que não aceita a sociedade em que vive e sonha com a felicidade para todos. Eis a protagonista "copiada" do livro de Enzo Strioni e inspirada na verdadeira Leonor.

A história é simples, ou breve, como a apresentam as sinopses que se escreveram na altura em que o filme passou em Itália. Tão breve como a esperança de poder fazer de Nápoles uma república, aspiração de Leonor que durou dois anos apenas e seria derrotada com a chegada dos Bourbon ao poder, em 1799. Nesse ano, a jornalista seria acusada de crime contra o estado e enforcada na Praça do Mercado de Nápoles. É uma das cenas dramáticas retirada dos factos que o jornalista Enzo Striano reconstitui com muito pormenor neste romance, ou biografia romanceada, A Portuguesa de Nápoles (Quetzal).

A projecção do filme no Instituto Italiano de Cultura foi escolhida para coincidir com o lançamento da edição portuguesa do livro que valeu vários prémios ao seu autor. Mas a intenção da realizadora não terá sido tanto a de fazer uma reconstituição literária, mas mais uma encenação teatral.

O teatro foi a inspiração para a forma e a intenção de colocar uma mulher no centro de uma revolução para falar e "registar a dor, a esperança e a paixão de toda uma existência", terá declarado Antonietta de Lillo a propósito deste Il Resto di Niente. A realizadora italiana estará em Lisboa no momento da projecção do filme no Instituto Italiano de Cultura.

Não é a primeira vez que aquela entidade presta homenagem a Leonor da Fonseca Pimentel. Desde 1997, ano em que a cidade de Nápoles começou um ciclo de homenagens à fundadora do jornal Monitore Napolitano (coincidindo com os 200 anos do início da revolução) que o instituto, em associação com a Embaixada de Itália em Lisboa, se uniu a universidades portuguesas para divulgar a vida e o legado intelectual de Leonor Pimentel.

Em 1999 comemorou o bicentenário da "acção política, prisão e execução" daquela intelectual. Entre representantes de várias universidades de Itália, contava-se o escritor italiano Antonio Tabuchi. Tratou-se de um ciclo comemorativo onde passou um outro filme, com a mesma protagonista. No caso A Portuguesa de Nápoles (título idêntico ao da edição portuguesa do livro), realizado em 1931 por Henrique Costa.|

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