Marco Delgado: "Se a TVI me tivesse renovado o contrato de exclusividade, mudar-me-ia na mesma para a SIC"
Vimo-lo, há três semanas, participar no concurso da SIC Vale Tudo. Aceitou andar aos saltos para ficar de pés juntos na SIC?
Surgiu uma proposta da SIC, mas ainda não foi oficializada e fechada por parte da produtora SP Televisão. Estamos a finalizar algumas questões do contrato.
Mas vai voltar a vestir a camisola da SIC...
Havia há algum tempo um namoro entre mim e a SIC, mas como tinha contrato com a TVI tinha de o honrar, finalizar e cumprir. Agora surgiu esta oportunidade. Terminou um ciclo.
Queridas Feras,MundoMeu, Tempo de Viver, Ilha dos Amores, Fascínios, Olhos nos Olhos são apenas algumas das novelas da TVI que traz no currículo. O que o levou a tomar esta decisão após dez anos a trabalhar em Queluz de Baixo? Deixa a estação porque a TVI não lhe renovou o contrato de exclusividade?
Também. Muitas das razões pelas quais ainda tinha contrato tinham que ver com as pessoas que estavam na TVI e à frente da TVI. E a TVI mudou muito ao longo dos anos... Ainda existem muitas pessoas competentes nos cargos e nos sítios certos, mas obviamente que nos apegamos a personalidades, a pessoas, a visões, a conceitos e a propostas...
O que mais pesou para querer ir embora?
Houve uma grande renovação na equipa da TVI. Perdeu-se a mística que a TVI tinha, perdeu-se a relação que tinha com os atores, havia um tratamento nos projetos que, antes, marcava a diferença.
Sentiu-se desmotivado nos últimos tempos?
Sim, talvez. Um bocadinho, mas é natural ao fim de dez anos. A motivação vai-se perdendo... É bom mudar.
Vai voltar a trabalhar para a TVI?
Não fecho portas, mas a minha vontade agora é fazer este trabalho com a SIC.
Sai da TVI com ou sem ressentimentos?
Deixo a TVI, mas sem ressentimentos. Trabalhei dez anos seguidos, seis com contrato... Cresci muito na TVI enquanto ator e, nesse sentido, não tenho ressentimentos nalguns. Só tenho a agradecer. Não se fecham portas.
Se lhe tivessem renovado o contrato de exclusividade, continuava na TVI?
Essa é uma boa pergunta. O meu contrato de exclusividade com a TVI terminou em junho do ano passado... Se a TVI me tivesse renovado o contrato, provavelmente mudar-me-ia na mesma para a SIC. Tudo dependeria das condições, mas estaria mais interessado em novas pessoas e novos projetos.
Como é que Gabriela Sobral o conquistou?
O convite foi feito no final do ano passado. Foi fácil aceitá-lo. Não foram precisas grandes armas de sedução [risos].
Não? Mas a SIC, tal como a TVI, também não está a oferecer contrato de exclusividade aos seus atores...
Não vou assinar contrato de exclusividade. Não está a ser discutida essa hipótese.
Como vê esta política levada a cabo pela RTP, SIC e TVI, que têm optado por não renovar a exclusividade das suas estrelas?
Vejo-a como um efeito colateral de toda esta crise financeira e de valores que está a acontecer em Portugal. Por um lado, não faz sentido que os atores tenham contrato de exclusividade e, por outro lado, acho que alguns continuam a precisar disso porque são figuras centrais das estações.
Não se sentia uma figura central da TVI?
Neste momento, não.
Porquê?
Não se trata do meu caso, todos nós atores deixámos de o ser.
As atrizes Alexandra Lencastre, Rita Pereira são algumas das estrelas, entre outras, que ainda usufruem de exclusividade...
Cerca de 95% dos atores deixaram de ser indispensáveis.
Imaginava estar diante deste cenário? Achava que era um ator "indispensável" para a TVI?
Com a exclusividade, todos nós achávamos que éramos especiais, mas os tempos mudaram. A conjuntura do país mudou. Mas sinceramente não me preocupa deixar de ser um ator exclusivo, preocupa-me ter trabalho.
"Os temas das novelas da TVI são muito recorrentes"
A SIC dá-lhe as boas-vindas com um papel na novela Ambição, que é protagonizada por Rita Blanco, Diogo Morgado, Maria João Luís, entre outros "pesos-pesados" da representação em Portugal. O que o aliciou no projeto?
O elenco, a equipa de realização e, claro, a própria SIC, que é uma estação com quem há muitos anos não trabalho. Fundamentalmente, diria que me aliciou ser a SIC. Ainda estamos em período de finalização de contrato, espero que tudo se resolva bem.
O que pode revelar sobre a personagem que vai fazer na trama assinada pelo argumentista Pedro Lopes. Vai encarnar o papel de um homem que vai seduzir a atriz Joana Ribeiro?
Ao que parece, sabe tanto e neste caso tão pouco como eu...[gargalhada]. Não me posso alongar, não tenho ainda muitas indicações. Mas, sim, creio que à partida seja esse o papel.
Que crítica faz às novelas exibidas pela SIC, entre as quais Dancin" Days?
A SIC apostou, ultimamente, muito e bem na ficção. Temos de dar mérito à Gabriela Sobral, que é, na minha opinião, uma pessoa que sabe muito de ficção. Ela tem feito um trabalho extraordinário e as audiências têm provado isso. Cada vez mais as novelas da SIC estão em primeiro, não tenho grandes críticas negativas a fazer. Estou com grande expectativa em começar a fazer este projeto.
E que avaliação faz das novelas da TVI?
A TVI tem de arriscar no formato novela no conteúdo, porque a novela é um formato cansado. Os temas das novelas da TVI são muito recorrentes. Pode arriscar-se mais nos formatos, conceitos, cenários, ritmos e até na própria parte técnica de iluminação e realização.
Para lá da interpretação na novela Ambição, está dedicado a outros projetos?
Sim, estou a ensaiar uma peça de teatro que vai estrear-se entre a primeira e a segunda semana de junho.
Como será o "reencontro" com o palco?
Trata-se da peça O Preço, de Arthur Miller. Vou estar em palco com São José Correia, João Perry. Vamos ser ensaiados por João Lourenço. Nem sei, aliás, como é que o teatro em Portugal vai sobreviver após estes enormes cortes na área da cultura...
É uma realidade que o preocupa...
Há um corte transversal que atinge todas as companhias de teatro em Portugal e isso acontece sem se ter noção do percurso e da história das instituições. Estreei-me em teatro, fico muito triste com esta política destruidora.
Como vê a atual situação de Portugal?
A minha grande preocupação é a emigração, a falta de oportunidades, e o emprego... A população ativa e que pode contribuir para o crescimento do PIB está a ir-se embora.
Como pode Portugal reerguer-se e ultrapassar este período de crise económica?
Tem de se investir mais na cultura e na produção nacional desde a pesca à agropecuária. Também é importante apostar-se mais na promoção de Portugal. Somos um país com diversidade, devemos promover melhor as nossas ilhas, praias, florestas.