Marcelo Rebelo de Sousa elogia Felipe VI: "Um excecional símbolo de unidade"
O último discurso do Presidente Marcelo em Espanha conteve, velada e implicitamente, a sua única referência à questão catalã. Na Universidade de Salamanca, e tendo Felipe VI a seu lado, o Chefe do Estado português dedicou ao rei espanhol um rasgado elogio. E foi aqui que se pôde "ler" nas palavras de Marcelo um apoio à posição de Madrid - do governo e da Casa Real - face às tentações independentistas da Catalunha. Marcelo fê-lo considerando Felipe VI como "um excecional símbolo de unidade". E depois acrescentou: "Um excecional símbolo cultural, de visão e de humanidade."
Marcelo e Felipe VI viajaram juntos no mesmo helicóptero de Madrid para Salamanca - e esse foi só mais um dos vários momentos em que estiveram juntos nesta visita de Estado de três dias do Presidente português a Espanha.
Na capital de Castela e Leão, foram à universidade celebrar os 800 anos desta - nasceu pouco antes da de Coimbra, no século XIII, havendo apenas três universidades mais velhas na Europa (Oxford, Paris e Bolonha). Como salientou Felipe VI no seu discurso, em tempos já muito idos um terço dos estudantes universitários portugueses passavam por Salamanca. Chegaram a ser 15% do total os estudantes lusos na universidade que teve Miguel de Unamuno como reitor. Foi aqui que os espanhóis prepararam há cinco séculos a sua partida para o mundo (Cristóvão Colombo teve de sujeitar o seu projeto de navegação, que acabou na descoberta da América, ao crivo dos académicos da universidade). O Presidente português voltará no final de maio para uma conferência que reunirá 600 reitores de todo o mundo. Ontem condecorou a universidade com a Ordem Militar de Santiago.
Um coro de estudantes recebeu os dois chefes de Estado cantando o Acordai, de Fernando Lopes Graça. E depois, ao discursar, Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou o mote. "Acordai! Acordai para a defesa dos direitos do homem, para a crença no Estado de direito, para os valores da democracia!" E fez o elogio das virtudes da cultura e da educação: "Não seríamos o que somos sem a emoção das artes!"
Mais uma vez, o Presidente da República elogiou a excelência atual das relações entre os dois Estados. "Uma fraternidade crescente", "uma relação única". E ainda a importância das sua línguas, "duas línguas de alcance global".
Felipe VI, por sua vez, improvisou no final do seu discurso, dizendo que quer "muitas mais ocasiões" para se encontrar com o Chefe do Estado português. Antes, havia sublinhado como os "exploradores e pensadores" ibéricos foram responsáveis nos Descobrimentos por esse "momento fundacional da humanidade", aquele "em que o mundo se fez uno". "Este é o imenso legado que nós, espanhóis e portugueses, temos a responsabilidade de preservar e projetar para o futuro". "Hoje, com as nossas respetivas identidades, partilhando o mesmo espaço geográfico - a Península Ibérica - e a nossa comum pertença à União Europeia, fazemos parte da mesma comunidade de valores, fazendo o possível para o desenvolvimento de uma humanidade mais pacífica e coesa", diria ainda.
O chefe do Estado espanhol faria ainda questão de dizer que o seu país "reconhece e celebra" os "feitos" de algumas personalidades portuguesas nas instituições internacionais, referindo especificamente o seu "querido amigo" António Guterres, secretário-geral da ONU.
No final, concluiria: "Portugal e Espanha são nações ibéricas, europeias e ibero-americanas. Renunciamos ao nosso ser quando nos fechamos e ficamos de costas voltadas; e somos fiéis a nós próprios quando, como hoje, nos abrimos ao mundo e, a partir das nossas identidades, nos sabemos reconhecer na nossa vocação universal."
Foi neste contexto que terminou invocando Fernando Pessoa: "Somos úteis ao mundo quando, desde as nossas respetivas identidades, atuamos no mesmo sentido." Ou seja: "O grande poeta estaria orgulhoso de saber que agora é assim e que estamos firmemente comprometidos com isso."
Finda a cerimónia, Marcelo e Felipe VI saíram à rua e, impulsionados pelo Presidente da República português, ofereceram-se aos afetos de alguns populares, nomeadamente turistas portugueses.