Marcelo e as moratórias: sinal de esperança
Da mesma forma que o entendimento e a reação à pandemia foram evoluindo conforme se foi assumindo que, sendo coisa nova, pouco mais de nada se sabia sobre a covid - e o vírus no-lo foi demonstrando cruamente, com infeções e mortes -, também fomos assistindo ao declínio do otimismo nas teorias de recuperação da consequente crise económica. Em meia dúzia de meses, percebemos que a queda rápida e profunda não seria sucedida por uma recuperação-relâmpago e para aplacar os efeitos das perdas acumuladas e do adiamento das perspetivas de normalidade foram fundamentais medidas como o lay-off ou as moratórias. Não foram suficientes nem suficientemente rápidas, infelizmente, mas contribuíram para ao menos adiar a crise social decorrente de falências e despedimentos em catadupa. O que agora está em cima da mesa é a decisão de, mais do que adiar, evitá-las na sua maioria.
É por isso um sinal muito positivo que, na entrevista que pode ler aqui, Marcelo Rebelo de Sousa seja claro no que respeita à necessidade de estender as moratórias muito além dos meses de que se tem falado. "Não era mau pensar, refletir, num prolongamento no tempo. Não estar a pensar em mais seis meses ou mais um ano, mas mais três ou quatro anos, pois se se diz que a economia portuguesa só voltará a estar na situação em que estava em 2019, entre 2023 e 2024, faz sentido que a economia das pessoas não esteja parecida com o que era em 2019 antes dessa altura."
O Presidente da República, como bem sabemos, não atira o barro à parede - nem tão-pouco fala sem conhecer as consequências do que diz e o enquadramento em que fala. Falar na possibilidade de alongar o cumprimento das obrigações de crédito dos portugueses - pessoas e empresas - para lá de 2023 significa que essa ideia faz parte de planos concretos e em negociação. Que é admitida já não apenas politicamente mas terá também o acordo das instituições financeiras - que sem esta solução se veriam inevitavelmente a braços com uma avalanche de malparado no final do ano; e que ainda que tenham robustecido estruturas na sequência da crise financeira, ficariam, se não impossibilitadas, pelo menos condicionadas numa altura em que deverão estar particularmente empenhadas em financiar a economia.
O PR não diz nada com leveza. O sinal está dado. E não é a única mensagem que deixa nesta grande entrevista ao DN e à TSF, em que fica claro que tudo fará para que se garanta que todos conseguirão votar em segurança nas presidenciais de dia 24. E que os governos são para ficar até que o povo decida que já não os quer.