Marcelo deita o país no divã e lança mais um candidato a Belém
Foi esta quarta-feira de manhã, no Palácio da Cidadela de Cascais, durante o encontro anual do Conselho da Diáspora Portuguesa (associação que junta portugueses e lusodescendentes residentes no estrangeiro com posições de destaque).
Fortemente apostado em lembrar ao PSD que não tem falta de potenciais candidatos às próximas eleições presidenciais, Marcelo Rebelo de Sousa virou-se para outro ex-líder do partido (há tempos já o tinha feito para Pedro Passos Coelho, o que este, aliás, não terá gostado muito).
O "eleito", José Manuel Durão Barroso, estava na sala, como presidente da Mesa da Assembleia Geral do Conselho da Diáspora. Depois de recordar que Durão tem agora "maior disponibilidade" para "o Conselho e para Portugal" - visto que está de saída da presidência da Goldman Sachs International -, o Presidente da República usou no seu argumentário uma citação (que adaptou) do Evangelho de Mateus. A citação, atribuída pelo apóstolo a Jesus, consta na chamada "Parábola do banquete da boda" (segundo a versão disponível no site da Conferência Episcopal): "Muitos, pois, são chamados, mas poucos escolhidos."
Ora como a Presidência é lugar de um só, e não de "poucos", Marcelo alterou a "passagem evangélica" dizendo que a recente "maior disponibilidade" de Durão Barroso surge num tempo em que "são muitos os chamados e por natureza apenas um escolhido" - forma elegante e velada de tentar colocar o ex-presidente da Comissão Europeia e ex-primeiro-ministro na corrida presidencial.
De resto, o Presidente da República fez uma intervenção em que, quase como que colocando o país no divã de uma análise psicológica, diagnosticou que Portugal está num "período bastante emocional" - mas mantendo apesar de tudo "alguma moderação no meio da imoderação" que na sua opinião predomina em termos globais. Este estado "bastante emocional" ocorre, segundo acrescentou, porque se vive "o tempo dos imoderados" e Portugal "não está imune ao emocional" nem "às vezes ao irracional" ou "às pulsões mais diversas".
O país tem porém "a seu crédito quase 900 anos de História". É um país "muito vivido" e "muito aprendido" e com "muita sensatez subjacente à espuma político mediática de cada segundo". E pratica-se "muito culto da vivência pacífica, da segurança, do risco calculado, da moderação, mesmo em clima universal adverso". Ao mesmo tempo, está "subliminarmente desperto para o que é preciso mudar para não perder oportunidades e maximizar ensejos, sobretudo nos mais jovens protagonistas, jovens e conhecedores do preço dos tempos perdidos". E "vivendo esta contradição entre aquilo que é duradouro na procura da segurança e aquilo que vai mudando subliminarmente, [Portugal] está a mudar e a querer desta forma compensar o lastro do que puxa para o conformismo".
Ou seja: os portugueses estão a "empurrar as instituições públicas, que forçosamente vão interiorizando e nalguns casos até acabando por pilotar uma mudança". E o que o Presidente da República disse não esperar é que "essa mudança acelere no futuro e que não seja, 50 anos após o 25 de Abril, o regresso ao passado, ao já visto, à repetição do ensaiado com uns retoques suaves no que está sonhado ou concretizado".