Máquinas avariadas, filas de horas e chuvas torrenciais. As eleições na RD Congo
As mesas de voto permaneceram abertas após o horário de encerramento marcado para as 17.00, uma vez que longas filas ainda subsistiam e muitas secções de voto abriram horas depois do agendado. Embora a votação tenha sido pacífica um pouco por todo o país - onde se realizou, dado que três regiões afetadas pela violência e pela epidemia de ébola não foram a votos -, houve registo de um caso de violência. Numa secção de voto na província de Kivu Sul, no leste do país, um polícia disparou mortalmente sobre um jovem após uma discussão sobre uma suposta fraude eleitoral. Na sequência, a multidão em redor espancou o agente até à morte.
Desde a independência da Bélgica, em 1960, o Zaire, mais tarde República Democrática Congo, não viveu nenhuma transição de poder em paz. As eleições são um evento recente, num país que tem conhecido governos autoritários, guerras civis e golpes de Estado. Se o presidente Joseph Kabila, no poder desde o assassínio do seu pai, em 2001, ceder o posto após os resultados oficiais, será a primeira transição democrática de sempre do país.
Kabila votou de manhã cedo em Kinshasa. "A minha única preocupação é que temos esta chuva muito forte e provavelmente a afluência às urnas pode ser baixa, mas espero que os céus se limpem, e os eleitores vão aparecer", disse o presidente que devia ter terminado o mandato em 2016.
Na mesma escola votou o candidato designado por Kabila, o antigo ministro do Interior Emmanuel Ramazani Shadary. É dos três principais candidatos o que menos intenções de voto recolhia nas sondagens, mas transpirou otimismo. "Já ganhei. Vou ser eleito, a partir desta noite sou eu o presidente", afirmou Shadary à saída da secção de voto.
A mesma convicção demonstrou Félix Tshisekedi. Após ter exercido o direito de voto, afirmou: "A vitória será nossa", enquanto fazia o gesto da vitória com os dedos.
"É um grande dia para o Congo porque é o fim da ditadura, é o fim da arbitrariedade, é o fim de 18 anos do sistema Joseph Kabila", disse por sua vez Martin Fayulu, o homem que liderava as sondagens.
Muitos eleitores, entre os mais de 38 milhões chamados a votar, expressaram aos jornalistas a alegria de poderem exercer o voto. "Estou entusiasmada por votar, de por fim poder escolher. É o meu primeiro voto", disse à AFP Rachel, estudante de 18 anos na cidade de Goma.
Muitos outros, porém, lamentaram a forma como decorreu a votação, em particular onde se registaram avarias nas máquinas de voto. E onde funcionaram, a facilidade de utilização deixou a desejar: "Com a máquina é complicado. Carreguei sem saber muito bem em quem. Não vi o número nem a cara do meu candidato", lamentou uma eleitora idosa em Kinshasa.
Alguns eleitores queixaram-se de que não conseguiam encontrar os seus nomes nos cadernos, e as ruas inundadas de Kinshasa impediram muitos outros de chegar às assembleias de voto.
Vital Kamerhe, diretor da campanha de Félix Tshisekedi, disse ter relatos de fraude em favor de Shadary na cidade de Inongo.
A Conferência Episcopal Católica (CENCO), a principal instituição a observar as eleições, disse que as máquinas de votação eletrónicas, que a oposição diz serem vulneráveis à fraude, tinham avariado em pelo menos 544 dos 12 300 locais de votação supervisionados em todo o país.
O Papa Francisco, no discurso semanal no Vaticano, deixou uma palavra aos congoleses. "Espero que todos trabalhem para manter um clima de paz que permita eleições regulares e pacíficas", disse.
A contagem dos votos estava programada para começar assim que as urnas fossem fechadas. As eleições presidenciais são a uma volta. Foram também escolhidos os representantes das assembleias nacionais e provinciais. Os resultados provisórios devem ser anunciados no dia 6 de janeiro.
Violentos protestos eclodiram nesta semana depois de as autoridades terem anunciado que a votação foi adiada nas cidades de Beni e Butembo, no leste, e nas áreas circundantes e na cidade ocidental de Yumbi, que representam mais de 1,2 milhões dos 40 milhões de eleitores congoleses.
Em Beni, organizou-se um voto simbólico. "A cidade de Beni fica na República Democrática do Congo. Não nos podem privar do voto", disse um jovem, Manix, enquanto outras pessoas escreviam o nome do seu candidato em folhas de papel.