Manuela Eanes pressiona PGR a bloquear Baleia Azul
"O desafio Baleia Azul é um assunto tão grave que não pode esperar uma semana nem um dia. Temos que atuar já, antes que morra algum jovem". O alerta foi dado por Manuela Ramalho Eanes, a presidente honorária do Instituto de Apoio à Criança (IAC), que durante o dia de ontem reuniu apoios de alguns nomes conhecidos na defesa dos direitos dos menores para tentar sensibilizar a procuradora--geral da República, Joana Marques Vidal, a "acelerar o bloqueio de links" como o caminho mais curto para prevenir o risco.
Em declarações ao DN, à margem do quarto Fórum Abrigo, que decorreu no Montijo, Manuela Ramalho Eanes sustentou estar em causa "um crime", pelo que, diz: "Aqui não se pode falar em liberdade. Não podemos esperar que um menor se automutile ou se suicide e não fazermos nada para o evitar. O perigo está iminente", insistiu, acrescentando que a procuradora "é uma a pessoa muito sensível e vai perceber como é inaceitável que se esteja à espera para agir".
A presidente honorária do IAC lamentava os quatro casos já conhecidos no país, de jovens que, alegadamente, se automutilaram no desafio da Baleia Azul - um "jogo" que terá origem numa rede social da Rússia, onde mais de cem jovens já se suicidaram - numa altura em que o Ministério Público já abriu quatro inquéritos e a PJ investiga, em contacto com os inspetores da Unidade Nacional do Crime Informático, para tentar seguir o rasto dos curadores do jogo e perceber se há portugueses envolvidos ou se as ordens vêm todas de fora do país. O JN escreveu que a adolescente de Matosinhos, internada no Porto, recebia ordens de um brasileiro, que lhe ligava de madrugada.
"Temos uma unidade de cibercrime que funciona muito bem na PGR, mas os links têm de ser bloqueados por ordem do Ministério Público, porque estão em causa vidas humanas e há que prevenir", alertou Manuela Eanes.
Ao seu lado nesta causa já tem nomes como Laborinho Lúcio, juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça jubilado, Armando Leandro, presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens, e Luís Villas-Boas, diretor do Refúgio Aboim Ascensão.
Armando Leandro admitiu estar atento ao fenómeno. "Iremos atuar, caso haja jovens com menos de 18 anos envolvidos no jogo", disse. Já Laborinho Lúcio aponta o dedo ao fácil acesso dos menores à internet, perante o distanciamento dos pais.
"Os educadores têm cada vez menos tempo para estarem com as crianças e elas acabam por ser libertadas para uma vontade imediata", sublinhou, destacando que é neste quadro que se inscreve a apetência dos jovens por desafios como a Baleia Azul. "Nós deixámos instalar na sociedade uma grande violência e hoje os jovens têm uma expressão muito violenta na sua relação. Isso passa para as crianças", referiu.
Luís Villas-Boas também defendeu a necessidade "urgente" de bloquear os links suspeitos, admitindo que os jovens, entre 12 e 18 anos, em situação de "maior fragilidade emocional" serão "mais facilmente convencidos" a aderir. E deixa um recado para os adultos: "Este tipo de propaganda só acontece em certos grupos de jovens em que não haja pais ou amigos por perto capazes de impedir."