Manual de instruções para a reforma

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A noção de que cada um de nós está mais para lá do que para cá, chega a partir dos 50 anos. Somar outros tantos anos daria cem anos e isso é inverosímil para a maioria dos seres humanos.

Mais tarde, acentua-se com o fim da vida profissional. Para muitos é um alívio, estão exaustos de fazer o que fazem, o caso dos professores. Para outros, é algo complexo e inseguro, podendo ser uma ameaça com a nova vida de reformado.
Muitas pessoas querem-se aposentar logo que possam, mesmo antecipadamente e com perdas monetárias significativas, devido a empregos mal remunerados e extenuantes. Reformar-se, além de alívio é uma dádiva.

O problema é as suas condições de saída, que no futuro têm enormes implicações na sua qualidade de vida por falta de recursos económicos.

Segundo a Pordata, em 2022, portugueses com 65 anos ou mais são cerca de 2, 5 milhões - quase 25% da população. O índice de envelhecimento (183,5) está a aumentar em exponencial pelo aumento da esperança de vida.

Em vários países da UE, a idade da reforma tem vindo a aumentar e as pensões têm sido reduzidas, porque o crescimento populacional e o aumento da esperança de vida colocaram uma enorme pressão sobre os sistemas de segurança social. Portugal não foge à regra, um português pode-se reformar, mas vem com muito menos dinheiro do que se estivesse no activo. A forma de contornar o problema é ficar mais uns tempos a fazer descontos para reequilibrar a pensão.

Actualmente, o sistema de pensões desencoraja a reforma antecipada.

A reforma elimina o stress relacionado com o trabalho e os ambientes de trabalho complicados. Os reformados passam a ter mais tempo livre e disponibilidade para se envolverem em actividades edificantes, como o exercício, desenvolverem as suas ligações sociais, o que é benéfico para a saúde mental.

Contudo há muita gente que não se adapta a esta nova forma de vida. A reforma leva à perda de identidade, deixam de ser rotulados e respeitados pelo que faziam.

Eu falo por mim, é tão bom ter tempo para pensar, leva-nos à criatividade e, até, a poder escrever este texto. Não estou reformado, mas gostava de estar e, isso, não me afecta minimamente. Ser administrador da minha vida e director-geral do meu tempo são atributos que anseio intensamente.

A reforma pode ser um momento de oportunidade e podermos começar a fazer o que mais gostamos.

O índice de felicidade também passa por ter tempo livre. Ter condições de vida (património, casa própria, reforma decente); bem-estar psicológico e satisfação com a vida; saúde física e saúde mental; educação (ensino, conhecimento); resiliência cultural; boa governação; resiliência ecológica e ambiental; mas também o uso de tempo ( tempo livre, tempo no trabalho e tempo de sono).

Não acredito que a maioria das pessoas com 66 anos esteja xexé e fique à espera de morrer.

O conceito de idade está a mudar, o tempo de vida de uma pessoa está em mudança: somos mais tempo jovens e mais tempo adultos, desta forma começamos a ser velhos mais tarde e durante mais tempo.

Manter o cérebro em forma, e ter um bom envelhecimento, no futuro será a regra e poder trabalhar até aos 75 anos será habitual para quem o queira fazer.

Será interessante viver mais anos, feliz e a trabalhar por opção. É primordial deixar-se de ver os velhos como uma população senil, passiva, dependente e parasita do erário público.

O conceito de reformado, sinónimo de acabado e à espera da morte, está ultrapassado.

As pessoas para lá dos 75 anos devem continuar activas, fazer exercícios físicos, ler, viajar, voluntariado, cidadania, cuidar dos netos, e a fazer coisas que apreciem. O essencial é estarem agarradas à vida.

Ideias são precisas para esta nova etapa da vida, com um novo manual de instruções.

Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores

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