Manu, o europeu
"Manu" é Emmanuel. O diminutivo deste nome altamente bíblico e bastante raro na França - 130 000 Emmanuel apenas desde 1900 - fez correr muita tinta recentemente no hexágono. Um jovem de 14 anos de idade dirigiu-se ao presidente da República Francesa, Emmanuel Macron, a o chamar pelo : "Como vai, Manu? ". A cena ocorreu durante as comemorações do apelo do general De Gaulle em 18 de junho, que em 1940 levou os franceses a se levantarem contra o invasor alemão. O muito familiar "Ça va manu?" do aluno visivelmente desgostou ao chefe de estado. E este último embarcou em uma lição de moral bastante carregada, exigindo o jovem que ele trata por "Monsieur" ou "Monsieur le Président", lembrando o aluno e seus amigos, a solenidade do momento, e a homenagem aos "mortes para França" durante a segunda guerra mundial. Se os franceses estimaram bastante positivo o lado moral do discurso presidencial, o problema é que "Manu" não podia deixar de ser Macron. Em vez de parar por lá, o chefe de Estado disse ao jovem que cantarolou o Hymno da Internacional antes de se dirigir a ele, de ir estudar e obter diplomas "antes de querer fazer a revolução". E para muitos na França, foi apenas para o presidente lembrar como ele é merecedor, brilhante e corajoso. Assim, rapidamente apagando as pretensões revolucionárias ou simplesmente as provocações de um rapaz de 14 anos.
Emmanuel Macron amplificou a sua atitude, usando-se o tu familiar para falar com o jovem, mostrando se por sua vez bastante arrogante. Do lado presidencial, tratava-se de recordar a importância da função e o respeito que lhe devemos. Certo. Mas não é raro o próprio Emmanuel Macron, causar esse tipo de reação, multiplicando as "selfies" e o uso de expressões "jovens". Na realidade, o presidente não gosta de desordem. Os manifestantes são para ele "cínicos e preguiçosos". Os pobres, "pessoas que custam um dinheiro de maluco e que mesmo assim não se safam", como ele expressou em uma reunião com sua equipe. A linguagem usada pelo Presidente Macron é muitas vezes brutal, quase ordinário. Mas além de uma comunicação que às vezes lhe escapa, palavras isoladas dos diferentes contextos, e às vezes distorcidas, há uma questão real de substância. Porque tudo isso causa desconforto na França. O "dinheiro louco" gasta em pessoas pobres que não se safem, passa mal. De facto, foi ao mesmo momento que se soube que o presidente e sua esposa Brigitte, tinham encomendado por 500 mil euros de novos pratos para o Eliseu (palácio presidencial), segundo o jornal "Canard enchainé". Trata se de um serviço de mesas composto de pratos em porcelana de Sèvres, destinado aos jantares oficias de cor "Bleue Éysée" , como deveria. A presidência tentou minimizar a despesa, mas não consegui impedir o fogo cruzado de criticas. Macron, que já se via em Júpiter, é desde então, tratado ironicamente, como "majestade".
Mas enquanto pensávamos que o capítulo fechou, a controvérsia voltou a saltar. Deste vez, com o caso da piscina: o casal presidencial querendo dotar a residência oficial de verão, o Fort de Brégançon, no sul da França, com uma piscina nos jardins. Um detalhe para alguns: afinal, a função presidencial requer alguns pompa e aparato, mesmo que apenas para questões de protocolo. Isso não impede. A imagem de maluco do trabalho que é Macron, sua noção do interesse geral, seus planos para melhorar a vida dos franceses estão bem cortados. Entre a reforma da SNCF (o caminho de ferro francês), a ameaça de cortes nos apoios sociais e a remoção do "exit tax" para os mais ricos - um presente fiscal para grandes fortunas - muito criticado, o presidente Macron nunca foi tão impopular. Suas reformas forçadas - a ponto de ter que conceder um fim-de-semana completo de descanso aos deputados completamente exaustos depois de dias e dias de intenso trabalho na Assembleia - são cada vez menos compreendidas.
No entanto, "Manu", o europeu, precisa do mais amplo apoio político e de uma opinião pública favorável, se quiser reivindicar o avanço de suas reformas europeias. Em 2019, os franceses e todos os europeus terão que ir às urnas para eleger os eurodeputados. Macron sabe que ele vai então jogar sua credibilidade para reivindicar seu objetivo: juntar-se ao panteão dos "pais fundadores" da União Europeia.
Correspondente em portugal da Radio France Internationale