Manu Chao foi rei na noite de abertura mais concorrida de sempre

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Dificilmente a edição 2007 do Sudoeste vai deixar de recordar a primeira noite. Em primeiro lugar, por ter sido a mais concorrida para uma abertura de festival, tendência que apenas confirmou a chegada de hordas de público desde segunda-feira. Por outro lado, devido à actuação estonteante do incansável Manu Chao, que resistiu cerca de três horas em cima do palco, tornando impossível a contagem do número de encores.

Quando já todos pareciam cansados por via dasenergiasdispendidas, este cidadão do mundo, de bilhete de identidade francês, voltava para incendiar uma plateia completamente identificada com os valores da sua música. Isto é, festa, adrenalina e refrões cantaroláveis. A todos os títulos memorável, a passagem de Manu Chao pelo Sudoeste teve um mérito que poucos são capazes de alcançar: o de arrancar a multidão das tendas de tal maneira que o parque de campismo só voltou a encher depois da sua saída do palco. Mesmo com a relva mais alta que anos anteriores, uma nuvem de pó demorou alguns minutos a desaparecer após a sua última canção.

Para a primeira noite de concertos, o reggae foi a palavra de ordem e Bob Marley uma espécie de figura divina que todos homenagearam, desde o seu filho Damian passando pelo ministro Gilberto Gil até ao inevitável Manu Chao, que tocou Bobby Marley a meio do seu alinhamento. Curiosamente, de todos, foi Damian Marley quem menos impressionou contrariando as boas impressões deixadas no passado no Coliseu dos Recreios. Apesar de fugir um pouco ao estilo do pai, mesmo tocando Could You Be Loved ou Get Up, Stand Up, Damian pareceu pouco à vontade com tanta gente pela frente, nunca se libertando verdadeiramente. Algo que o veterano Gilberto Gil soube contrariar apesar de musicalmente, nunca ter impressionado verdadeiramente. É raro ver um membro de um governo a cantar e Gil é um verdadeiro gentleman, sempre preocupado em servir aqueles que estão à sua frente. Por essa razão, adaptou o seu repertório com arranjos reggae, que aliás sempre fizeram parte da sua carreira, mas sem grandes resultados. Valeu a boa disposição e o respeito que todos demonstraram.

Antes, os I'm From Barcelona, mesmo sem grandes afinidades com os restantes companheiros de cartaz, souberam contrariar as diferenças com muito humor, o que foi bem notório na sua introdução quando puseram a tocar Barcelona, na voz Freddie Mercury.

No Planeta Sudoeste, o grande destaque foi para os Wraygunn, cada vez mais apurados na arte de comunicar com o público sem deixar de parte a música. Por essa razão, Paulo Furtado entregou o trabalho vocal a Raquel Ralha e Selma Uamusse, que cada vez mais deixam de ser apenas coristas. Uma presença no palco principal não seria, de todo, um prémio desajustado. Já os Noisettes pagaram a factura de tocarem à mesma hora de Manu Chao, o que lhes retirou atenção mas não empenho nem entrega. De resto, pouco acrescentam aos Yeah Yeah Yeahs.

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